BOM, BONITO e BARATO.

O famoso ilustrador Oséas Leão disse a respeito dos artistas capixabas que participaram do 2º Salão de Belas Artes, promovido pela Casa do Estudante em Vitória: “Possuímos talentos capazes de imortalizar, nas telas, as belezas incomparáveis de nossa terra, seus usos e seus costumes” (A Tribuna, 01/10/1939).
Doze artistas participaram deste salão (“Dias Antigos” – Renato Pacheco): Levino Fanzeres, Álvaro Conde, Oséas Leão, Ocinha Leão, Leonor Bortezzi, Alvimo Pinto, Onélio Santos, Aldomário Pinto, Nair Buaiz, Aelson Trindade, Luiz Fraga e Eduardo Aguilar. A presença de Levino bastaria para validar a declaração de Oséas. Fanzeres representou a pintura nacional nas exposições dos centenários da independência dos Estados Unidos, Argentina e Brasil. Nesta última (1921) expôs “Partida de Araribóia”, tela de grande formato encomendada pelo governo do ES e hoje acervo da Assembléia Legislativa. Consagrado artista nacional (Cachoeiro de Itapemirim, 1884) fundou a “Colméia Artística da Quinta da Boa Vista”, escola-livre de pintura que atraiu discípulos de todo o Brasil.
Esses doze artistas de 1939 foram apreciados por apenas 21 visitantes. A Tribuna de 29/12/1939 registra e o jornalista afirma com impropriedade: “falta incentivo do público”. O correto seria: falta incentivo público. O incentivo do governo (valorização e difusão) é dever constitucional do Estado (Art. 215); o da mídia (informação) é obrigação moral. Um povo despreparado e desinformado fica à margem de uma vida plena e, sem público, a arte não acontece.
Analisando a triste trajetória financeira dos pintores Massena e Fanzeres, no ES, concluí que eram pintores de ótima formação, elegantes, tinham grande capacidade de produção, eram versáteis e com currículos de peso. Nós, porém não estávamos preparados e não fomos incentivados a apreciar e absorver suas produções. Nossa Educação Artística, incipiente e teórica, sem o apoio de um Museu de Arte, dificulta distinguir gato de lebre. Os bichanos se multiplicam neste ambiente propício.
Da exposição “Faces na Primavera”, que apresento no meu ateliê até 21/12, fazem parte duas telas adquiridas em leilão, promovido em 1998 pela Rugendas Galeria de Arte (BH) com Apoio Cultural da Ana Terra Galeria de Arte (Vitória): a primeira, possui certificado de autenticidade atribuindo autoria a Elizeu Visconti (entretanto, após limpeza do vidro da moldura, revelou-se uma outra assinatura); a segunda, consta no catálogo do leilão como retrato de Henrique Cavalleiro, pintado por sua mulher Yvonne Visconti (mas na verdade o retratado é o pintor português Arthur Ferreira da Silva, de quem temos mais três retratos nesta mostra, inclusive um, pintado por Henrique Cavalleiro).
Considerando o desinteresse do governo em promover Educação Artística (matéria curricular de todas as séries do primeiro grau das escolas públicas e particulares) e lembrando de Massena e Fanzeres; desde que abri meu ateliê ao público (1979) privilegio seu caráter educativo, mostrando artistas e o resultado de pesquisas. Na ausência de museus somos visitados por inúmeras escolas de todos os graus. De portas abertas, tenho prazer em conversar com colegas, visitantes, jornalistas e estudantes. Aprendi que não basta ser bom, bonito e barato, se não há público que perceba autenticidade e diferenças.
Kleber Galvêas – pintor - tel. 3244 7115 10/05
PS. As telas citadas podem ser vistas no nosso site: www.galveas.com