FANZERES E MASSENA: POLÊMICA?

“Na boca de quem não presta, quem é bom não vale nada”- Geni Malta, Barra do Jucu.
Em Portugal, Malhôa e Columbano, pintores oitocentistas, ensejam polêmica entre seus admiradores. A elegância portuguesa mantém o nível alto: nós aprendemos e a literatura se enriquece. A turma Columbano enaltece a superação do desenho, criando atmosfera romântica. A turma Malhôa, a exatidão do desenho, possibilitando registros precisos do ambiente. Os dois grupos concordam em destacá-los, entre os artistas portugueses.
Através da coluna do jornalista Mesquita Neto, Massena e Maria Stela de Novaes travaram polêmica a respeito da escola fundada em Vitória no princípio do séc.xx, por Carlos Reis. Massena, artista, queria ver ali uma escola de arte; M. Stela, cientista atenta ao mercado, privilegiava o aspecto decorativo/utilitário. O sonho do grande pintor, de mesma formação e respeitado por Fanzeres e Massena, foi breve.
Polêmica muito popular, no Brasil, foi entre Noel Rosa e Wilson Batista. O primeiro, compositor já respeitado; o segundo, recém chegado de Campos, deslumbrado com a boemia da Lapa, Rio de Janeiro. CD gravado por Cristina Buarque e Henrique Cazes, inclui toda a polêmica, 8 músicas. A perspectiva de Noel era diferente da de Wilson. Ele teve como referência a “nata” da malandragem; o outro, o malandro folclórico (o otário). O resultado foi bom para os dois, fizeram uma música em parceria dedicada a Ceci, mulher que amaram.
Fanzeres (1884-1956), de renome nacional, visitava o boêmio Massena (1885-1974) em Vila Velha, que recebia também Hélios Selinger, o grande simbolista brasileiro. Sua casa era generosa. Massena admirava profundamente o trabalho de Fanzeres, destacando crepúsculos e pinturas históricas. Entretanto o quadro do colega que mais elogiava era uma paisagem, gênero em que Massena era mestre: “Senochenes”, tema europeu medalha de ouro na Bélgica, que está no Palácio Anchieta (rasgada há mais de trinta anos).
Fanzeres foi Prêmio Nacional de Viagem, Museu Nacional de Belas Artes; Massena foi Prêmio de Viagem do governo de Minas. Massena fundou a Escola de Belas Artes do ES; Fanzeres a mais concorrida e produtiva escola livre de pintura no Brasil, Quinta de Boa Vista/Rio. Fanzeres representou oficialmente a pintura nacional com exposições individuais promovidas pelo Governo no exterior; Massena tem obra no Palácio do Governo Francês e em nossas embaixadas, de Paris e Londres. Fanzeres domina a coleção do Palácio Domingos Martins - Legislativo; Massena, a do Palácio Anchieta - Executivo. Fanzeres está representado no Museu Nacional de Belas Artes; Massena, de Juscelino a Sarney, foi o único pintor brasileiro com obra na sala da presidência no Palácio do Planalto – Brasília. Fanzeres pintou “A Partida de Arariboia”, contribuição dos capixabas às comemorações do centenário da Independência; Massena o teto do Carlos Gomes, em 1969.
Aqui não há polêmica, só fuxico. Nós temos pouco interesse pela nossa história e por obras de artistas locais. Poucos capixabas conhecem estes dois grandes mestres: um, o mais importante pintor para o Espírito Santo; o outro, o mais importante pintor nascido no Estado. Se ambos são importantes e têm intenso brilho, embora sejam diferentes, é caso de estrela dupla de primeira grandeza no cenário artístico capixaba.


Kleber Galvêas, pintor Tel.: 3244 7248, Fax.: 3244 7115 ateliegalveas@uol.com.br www.galveas.com 01/05