A História da Barra do Jucu

“Gênese da Cultura Capixaba - Desenvolvimento Sócio Cultural da Grande Vitória”

Homero Bonadiman Galvêas

1ª Edição
GALVÊAS, Homero Bonadiman, 1976.
A História da Barra do Jucu
“ Gênese da Cultura Capixaba - Desenvolvimento Sócio Cultural da Grande Vitória”, Barra do Jucu, 2005.

1 - História Cultural, Tradições Capixabas - ES.
www.galveas.com/homero

Redação e Digitação: Homero Bonadiman Galvêas
Revisão: Geraldo Pignaton e Carlos Galvêas
Fotos: Homero Bonadiman Galvêas Marcelo Sputnik e Arquivo das Bandas de Congo da Barra do Jucu
Foto Capa: Óleo de Kleber Galvêas retratando a praça central da Barra do Jucu na década de 1960
Contra Capa: Mapa da Província do Espírito Santo, 1868 - Cândido Mendes. Acervo Galwan Engenharia

Foto: Augusto Bonadiman Galvêas.
Projeto Gráfico: Marcelo Sputnik - visaoambiental.com

Todos os direitos reservados. Parte da obra poderá ser reproduzida, desde que citada a fonte.
Este livro foi publicado sem o apoio de Leis de Incentivo à Cultura

ÍNDICE
1.AGRADECIMENTOS ..................................................05
2.INTRODUÇÃO ............................................................14
3.OS PRIMEIROS HABITANTES DESTAS TERRAS ...16
4.OS JESUÍTAS DO LUGAR ..........................................24
5.A FAZENDA DE ARAÇATIBA ...................................35
6.OS VIAJANTES ESTRANGEIROS .............................40
6.1.MAXIMILIANO, FREYREISS E SELLOW .............43
6.2.AUGUSTE DE SAINT-HILAIRE ..............................49
6.3.CHARLES FREDERICK HARTT .............................52
7.RELATOS DE GOVERNADORES DA PROVÍNCIA .56
7.1.FRANCISCO ALBERTO RUBIM 1812-1818 ..........56
7.2.IGNÁCIO A. DE VASCONCELLOS 1823-1828 .....57
8.ECONOMIA LOCAL ...................................................61
9.O RIO JUCU E SEUS CANOEIROS ...........................75
10.A P0LÍTICA NA REGIÃO .........................................86
11.ALGUMAS IMAGENS ..............................................92
12.A BARRA DO JUCU HOJE .....................................105
12.1 O RIO JUCU HOJE ...............................................116
12.2 OS AREAIS ...........................................................120
12.3 O MANGUEZAL E A PESCA ...............................122
12.4 AS ESTRADAS E INDÚSTRIAS ..........................123
12.5 A FORMAÇÃO DE TERRA VERMELHA ............124
12.6 OS REFLEXOS PARA A BARRA .........................126
12.7 A RESISTÊNCIA LOCAL .....................................128
12.8 A LUTA POR JACARANEMA .............................132
12.9 A VIDA HOJE .......................................................136
13. A CULTURA LOCAL .............................................139
13.1 O CONGO ............................................................140
13.2 O CARNAVAL .....................................................158
13.3.OUTRAS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS .......165
14.CONCLUSÃO .........................................................178
15.REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO ........................180
15.1.DOCUMENTOS E ARTIGOS DE JORNAIS ......183
16. ANEXOS ................................................................184
17.EXTRA ....................................................................188

JUSTIFICATIVA


A origem da família, da propriedade privada e do Estado, estudada ao longo dos tempos na Europa
só foi compreendida, de fato, após Friedrich Engels, que se apoiou no trabalho de campo desenvolvido
por Morgan, entre os índios Iroqueses na América do Norte. A vida social desses índios representava
um estágio anterior à civilização grega. A investigação entre esses primitivos, isolados há séculos, foi
fundamental para a compreensão do desenvolvimento da sociedade européia.
A Barra do Jucu, parte integrante da antiga capital (Vila Velha), distante poucos quilômetros do centro
de Vitória, tinha uma ligação antiga com a atual capital: o “Canal dos Jesuítas”. Ele facilitava muito o
tráfego de mercadorias e pessoas entre as duas localidades, mas não era uma via de mão dupla.
Enquanto Vitória crescia lentamente, a Barra permanecia parada no tempo, pelo menos até a década de 1970.
Conhecer a história do desenvolvimento da Barra do Jucu é lançar luzes sobre a formação e desenvolvimento
do Espírito Santo, e o papel da sua capital, Vitória, neste contexto.
Quando meu pai chegou aqui na Barra (1974) quis alfabetizar os filhos do nosso vizinho.
A cartilha tinha ilustrações: a, abelha; e, elefante; i, igreja; o, olho; e o u, era um cacho de uvas.
Nas quatro primeiras vogais, olhando as ilustrações, eles iam bem. Entretanto, na última letra,
para a palavra uva eles soletravam: “co - qui – nho”. Ele entendeu que os meninos conheciam muito bem
o coquinho natal (aricanga) dos cachos colhidos por seu pai no final do ano, em Jacaranema, mas nunca
tinham visto uvas. A segunda lição, ilustrada com uma bica, era soletrada: “pin – guei – ra”! Meu pai concluiu
que tinha muito que aprender no novo ambiente.
A Barra, até meados dos anos 70, era local muito isolado e preservado. Nas vendas, não se encontravam
frutas nem verduras. A água era de poço; a iluminação precária; poucas casas tinham banheiro e o banho
era na maré. As ruas eram todas de terra, desalinhadas, sem meio-fio; havia poucos muros; os jardins
avançavam pela rua e o amor-agarradinho saltava por sobre as cercas de varinhas, caindo em cascatas,
compondo belíssimo cenário bucólico.
Este passeio pela Barra pretende oferecer subsídios para a nossa história: vazia de guerras; cheia de paz.


Homero Bonadiman Galvêas.


BARRA DO JUCU - SUA HISTÓRIA, SEU CARISMA.

Tarefa de acurada pesquisa, seleção e discussão, a “História da Barra do Jucu – Gênese da Cultura
Capixaba” nos oferece um panorama onde se destacam, além da dedicação ao levantamento histórico,
a vivência, o amor e o entusiasmo de Homero Bonadiman Galvêas (o autor) pela Barra, seu povo,
suas tradições.
Notamos nesse trabalho três partes distintas; a da narrativa dos fatos e sua cronologia; a do
discernimento crítico, embora discreto; e a das tradições - ressaltadas por pitorescas entrevistas
em vívidos relatos, cada qual, dada à natureza do mesmo, com sua dose certa de informações e comentários.
Na parte histórica nos impressiona a extensão territorial das fazendas jesuíticas ao longo do Rio Jucu
e adjacências, a diversidade dos grupamentos indígenas, cada qual com suas características próprias,
pertencentes às duas grandes nações – a dos Tupis-Guaranis e a dos Tapuias, cujas diferenças e disputas
por terras geravam conflitos dos quais os colonizadores se aproveitavam em benefício próprio, as revoltas
das tribos contra alguns governantes cruéis, o empenho dos jesuítas tanto do ponto de vista catequético
quanto colonizador (relação esta nem sempre amistosa), destacando-se, com mérito, o trabalho do Padre
José de Anchieta e sua versatilidade a atingir dimensões sociais e sociológicas, em sua ânsia de plasmar
a alma do gentio.
Outros tantos aspectos desse rico relato evidenciando o surgimento e crescimento da Barra do Jucu como
comunidade, desconhecidos para nós, nos surpreendem e emocionam: da íntima relação com a natureza,
da qual sobrevive ainda grande parte de sua população, às práticas de pesca tanto no rio como no mar;
do rico folclore, ressaltando as bandas de congo, cujos jongos ultrapassaram fronteiras, aos satíricos
carnavais; dos personagens locais de ontem e de hoje, às mudanças sofridas ao longo dos anos, que a
afetaram profundamente. Do lugarejo simples à Barra de hoje, a se impor como florescente meio
esportivo – bodyboarding, surf, canoagem, de cuja prática surgem atletas de renome internacional -,
ao criativo ambiente cultural, escolhido como moradia de jornalistas, artistas plásticos, dramaturgos,
escritores, num intercâmbio sadio, democrático e enriquecedor com a comunidade nativa, resultando
daí essa identidade incomum que seduz a quantos a conhecem.
É preciso ler a “História da Barra do Jucu” para saber, aprender a amar e compreender as raízes e
razões que contribuíram para que se tornasse um lugar tão singular e especial.
Especial e singular é também a figura de Homero, autor dessas páginas nas quais imprime, com
surpreendentes comentários, sua inclinação inata para a História como ciência, seu discernimento
criterioso, seu desmedido afeto por essa pequena parte do Brasil, que se torna grande pela importância
que lhe empresta ao mergulhar, sem máscara, nas águas turvas dos primórdios de sua fecunda
formação sócio-cultural.
Com carinho e prazer pude acompanhar a evolução desse trabalho, o que me facultou conhecer
melhor, não apenas a história da comunidade Barrense – que adotei como se nela nascera, mas,
mais ainda, a personalidade de Homero, a quem tenho a honra de chamar de Amigo, sua pacífica
atitude diante da vida, seu olhar filosófico, seu afável jeito de ser, que a todos conquista.
É impossível não gostar do Homero!
É impossível não amar a Barra!

Marilena Soneghet.

 


APRESENTAÇÃO

Muito bom trabalho de pesquisa. O autor executou verdadeiro serviço de “escavação” nos
documentos históricos existentes em nossas bibliotecas, trazendo à luz fatos desconhecidos,
esquecidos, enterrados no caminhar do tempo, que vai apagando na sua correria para o
desenvolvimento, as pegadas daqueles que se aventuram no desconhecido, cobrindo caminhos
e semeando civilização.
Tem razão aqueles que afirmam ter o Espírito Santo começado pela Barra do Jucu. Quando
o donatário, vindo tomar posse de sua capitania, aportou pelo lado da Prainha em Vila Velha,
deve ter sido por falta de condições, por influência do tempo (enchente, maré alta, ventos fortes,
altas ondas) que não aportou na Barra do Jucu, caminho usado bem antes por piratas, navegadores
anônimos, aventureiros em busca do desconhecido.
Além de nos revelar uma história antiga onde os passos e audácia dos padres Jesuítas se misturam
aos braços e obediência de negros e índios, a ponto de se submeterem à grande aventura de
rasgar a terra, abrindo um canal de 12 km. para encurtar a distância entre o rio e o mar, Homero
nos fala na grandeza territorial do Município de Viana (minha terra), vida pacata da gente antiga
da Barra, a abundância de peixes que vinham em cardumes para serem apanhados pelos pescadores,
as trepadeiras naturais enfeitando a entrada das moradias singelas.
Com muita audácia denuncia a prática da grilagem, o descaso para com o ecosistema de modo
geral, particularmente com a agressão feita ao Rio Jucu, manancial responsável pelo abastecimento
da Grande Vitória, aborda com muita veemência a necessidade de se manter de pé a Reserva
de Jacaranema.
Traz-nos a história do Congo e seus mestres; fala-nos dos carnavais barrenses, forma irreverente
de se satirizar os deslizes dos políticos.
É de fato uma obra para ser lida, guardada e consultada. É a memória preservada da Barra do Jucu.
De parabéns o jovem Homero Bonandiman Galvêas.


Vera Maria da Penha – Escritora.


AGRADECIMENTOS:

Érica, Alexanderson e Kleber, meu novo núcleo familiar; minha avó Esther de Sá Oliveira Galvêas,
que muito influenciou minha formação; meus tios, primos, parentes e amigos sempre
camaradas: meus padrinhos Rogério e Eliane Betero do Vale Abreu, amigos carinhosos;
meu pai Kleber Galvêas, que conversou comigo sobre estes assuntos, fornecendo dados;
minha mãe Anita Bonadiman Galvêas, que me deu meu primeiro tambor de congo e me orientou
na construção das frases e correção ortográfica; meus irmãos, Augusto e Alexandre Bonadiman
Galvêas, que me ajudaram na digitação e formatação da pesquisa; Mestres Alcides Gomes da Silva
e Honório Amorim, que tocaram congo no meu primeiro aniversário e, no segundo me deram de
presente um vidro de brilhantina; Dr. Geraldo Pignaton, médico paciente da comunidade, bom de
português, história, congo, carnaval e chorinho; ao amigo Humberto de Campos, que me ajudou
a fazer e a transcrever as entrevistas e a incorporar novos dados à pesquisa; Professores Sebastião
Pimentel e Estilaque Ferreira, orientadores da monografia; Marilena Soneghet Bergmann, minha
professora dedicada e colaboradora oficial e Vera Maria da Penha, sábia conselheira; Luiz Paulo
Vellozo Lucas, Tio Cuca (Carlos Galvêas), Claudia Cabral, Afonso Abreu, Leandro Haddad,
chefes e companheiros durante meu estágio de dois anos na “Lei Ruben Braga - Prefeitura de Vitória”,
onde conheci quase todos os artistas e agitadores culturais atuantes na Grande Vitória. Prof. Edmar
Nunes de Azevedo, Secretários: Ramos, Alvarito, Roberto A. Beling Neto e Prefeito Max Filho,
pelo convite e oportunidade de trabalhar na Casa de Cultura e Cidadania da Barra do Jucu, onde
ouço e conto muitas histórias. Todas as pessoas que tiveram a paciência para me atender em todos
os lugares em que fui pesquisar: Seções Especiais da Biblioteca da UFES, Arquivo Público Estadual,
Biblioteca Pública Estadual, Instituto Histórico e Geográfico. Todos que me cederam o precioso
tempo nas entrevistas incluídas no trabalho. Marcelo Sputnik que fotografou, e formatou o livro.
A Banda Mirim de Congo, onde toquei e as Bandas de Congo da Barra, onde sempre toco tambor.
As ondas do Barrão que me ensinaram a surfar. Jacaranema e matas dos arredores da Barra,
que muito me ajudaram a conhecer a natureza. Abelhão e Hugo Musso, professores de rock.
Toda a comunidade barrense, da qual faço parte, por ter recebido tão bem meus pais, desde 1974,
quando fixaram residência neste lugar, onde nasci (1976), constitui família e gosto muito de viver,
apaixonado por sua gente, nosso ambiente.

Homero Bonadiman Galvêas