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BARRAGENS E CORRUPÇÃO

Quando eu tinha 7 anos (1955), vim com a minha família passar o domingo aqui na Barra do Jucu. Nós fomos convidados por Sultany Nader Valladares, que possuía uma casa de veraneio no lugar. Quando voltava para nossa casa na Prainha, maravilhado com aquele dia inesquecível, lembro até hoje de detalhes, eu disse para meus pais que quando casasse era aqui que viria morar. Passados 19 anos (1974), no dia do meu casamento comprei a casa na Barra, e após um mês me mudei para cá, onde vivo desde então, acompanhando a grande transformação deste lugar.

Nos primeiros 5 anos eu dava aulas de Ciências na Escola Polivalente de Itaparica. De início, para trabalhar, passava diariamente por uma estradinha de areia a beira mar, depois por trecho da Rodovia do Sol, sem asfalto, e atravessávamos o Rio Jucu pelas duas pontes de madeira da Madalena. No final dos anos 1970 asfaltaram a rodovia. Era uma estrada única com mão e contramão, e não havia canteiros centrais separando as duas pistas. Foi nessa época, passando por ali todos os dias, que observei buracos quadrados de 1 x 1metro, de espaço em espaço, que surgiam quase todos os dias no centro da rodovia. De início pensei que fossem feitos para a colocação de postes de iluminação, mas, como os buracos eram pouco profundos, essa hipótese foi descartada. Perguntando a amigos engenheiros obtive a correta explicação: era verificação, in loco, para saber se o asfalto havia sido executado obedecendo a todas as especificações do contrato. Nunca mais vi procedimento semelhante e, recentemente, a televisão nos mostrou trecho da estrada Leste-Oeste destruído. Obra entregue há poucos dias. A reportagem exibiu um asfalto sem estrutura e com apenas uma fina camada asfáltica, diretamente sobre a terra.

Amigos que trabalharam em grandes empresas me contaram que geralmente as empresas são avisadas sobre quando vão receber visitas de fiscais do governo, e que na recepção os inspetores, invariavelmente são convidados para um coffee break generoso, e não saem sem uma lembrancinha.

O Presidente da Vale, ontem na televisão, nos mostrou laudo de inspeção por empresa nacional feito em janeiro deste ano, e de empresa alemã feito no ano passado, que tranquilizava a direção da empresa contratante.

Não se sabe ainda a causa do rompimento da barragem, mas uma coisa é certa, a corrupção é comum no Brasil, nas empresas e no governo. Prospera, algumas vezes, à revelia dos dirigentes, responsáveis últimos por seus funcionamentos. Funcionários corruptos, leis ineficientes, burocracia obsoleta e impunidade corroem a autoridade dos responsáveis e expõem o povo a riscos desnecessários.

A confiança em uma estrutura administrativa inadequada, distante do perigo, faz com que instalem a área de administração e o refeitório dos operários a jusante de uma barragem. Esta, por mais cuidados que sejam tomados em sua construção, sempre oferecerá risco. Fadiga de materiais ocultos, infiltrações invisíveis, obras na vizinhança, tromba d’água, ciclones, terremotos e informações de funcionários corruptos, são causas de acidentes previsíveis.

O ribeirinho nos ensina: “A água é traiçoeira”. O maratimba emenda: “Água não tem cabelo”. Todo cuidado é pouco.

Kleber Galvêas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 ateliegalveas@gmail.com


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