CAÇADORES DE BORBOLETAS

A iridescência das asas das borboletas caiu no gosto europeu: quadros, bandejas, caixinhas, cartões e outros artesanatos decorados com esse material alcançaram bom preço.
Uma companhia se estabeleceu na América do Sul, para exportar essa matéria prima para a Europa. Formou grupos de caçadores de borboletas e para eles alugou sedes, forneceu veículos, gasolina, uniformes, papéis e demais equipamentos. Como em campanha política milionária, esses grupos partiam de suas sedes, equipados, todos os dias às 8 horas. Retornavam às 12, voltavam ao trabalho as 14 e às 18 horas encerravam o expediente. Eram 8 horas diárias de deslocamentos, atrás das preciosas borboletas.
O produto das caçadas era adquirido pela empresa, que obviamente descontava os custos dos seus investimentos nessa estratégia.
Um grupo de moradores locais, que conhecia a identidade do lugar e os hábitos das borboletas, formou uma associação de caçadores autônomos. No primeiro ano alcançaram apenas 0,5% do mercado, passados 2 anos abocanharam 8%. Foi quando foram visitados por representante da empresa, que lhes ofereceu um pacote de dinheiro, para continuar controlando a produção. Recusaram.
No ano seguinte, com muitos jardins floridos, a associação dominou o mercado de captura de borboletas.
A técnica empregada consistia em plantar flores variadas, ao gosto das borboletas locais, em vez de correr atrás delas. O capital que possuíam não era monetário, mas formado pelo conhecimento do ambiente e das borboletas que o freqüentavam. Isso, em pouco tempo, mostrou resultado surpreendente.
Rompeu-se a letargia do lugar, voltou a esperança, e quase todos estavam mobilizados na caça às borboletas, sem abandonar seus afazeres tradicionais e os cuidados com casa e prole. Estabeleceram-se laços de confiança interpessoal e a rede de cooperação, visando à produção desse bem coletivo, se espalhou por todo Estado.
Os nativos atraiam as borboletas para seus jardins, plantando as flores mais visitadas por elas na natureza. Como eram em torno de suas casas, capturavam borboletas que circulavam ao alvorecer, as que preferiam o sol a pino e as que se alimentavam durante o crepúsculo.
O conhecimento da identidade local reduziu investimentos à praticamente zero. Deu sustentabilidade à associação, que amadureceu e cresceu. Com boas idéias e credibilidade venceu o capital. Com a nova estratégia, não só dominou o mercado, mas também universalizou essa atividade econômica. Reduzindo o custo da matéria prima expandiu o comércio desse artesanato na Europa. As casas das vilas ganharam jardins, beneficio que se refletiu no turismo, na autoestima e na qualidade de vida de todos.
O partido político que possui a maior rede trabalhando espontaneamente na promoção de seu ideário, o ano todo na mídia, escolas, associações, esquinas e creches, é o partido identificado com a questão ecológica. É a antítese, a novidade, a diferença nessa campanha eleitoral.
Esse partido possui um capital político invejável. Tem o maior jardim. De onde se ouve a canção ecológica cantada pela maioria da população.
Se preservar a sua identidade, não se misturando ou se corrompendo em coligações vexatórias, não tomando o ônibus daqueles que se confrontam na aparência, mas se irmanam na essência, terá grande sucesso.
A estratégia é simples, como a dos caçadores de borboletas: em vez de correr atrás delas, cuidar bem dos jardins. Preservar a identidade e inspirar admiração, para que cada vez mais borboletas venham nos visitar.
Kleber Galvêas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com 03/2010