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Como Punir Protestos Populares? (publicado em A Tribuna, 25/02/2014)

Um artista americano quebrou um vaso de cerâmica de U$ 1 milhão,
exposto por artista japonês, em museu de Miami. Ele aproveitou a
divulgação do crime que cometera, para denunciar o desinteresse do
governo e da mídia local pela produção dos artistas da terra: “... não
temos voz, e os espaços nobres são sempre ocupados com obras de
alienígenas, em transações com curadorias estranhas.”

No passado, a tela “A Ronda” de Rembrandt recebeu várias facadas na
Holanda, e a “Monalisa”, uma pedrada em Paris. Por terem visibilidade,
serem únicas como uma vida, obras de arte, patrimônios da humanidade,
têm sido alvo de agressões como forma de chamar a atenção para
protestos políticos. No palácio do governo, em Vitória, a cabeça de uma
estátua rolou pela escadaria durante violenta manifestação pública.

Muitos artistas usam a própria obra para protestar. Hogarth (séc. XVII
- XVIII), Picasso (séc. XIX - XX), Banksy (séc. XXI), são notáveis nesse
propósito. Protestar é direito garantido pela Constituição que também
criou canais de comunicação do povo com o poder. Ela defende a
liberdade de expressão e ética na vida pública. Entretanto...

Falando sobre o dia a dia da Assembleia Legislativa, repórter de tevê
informa que nenhum cidadão ocupou a Tribuna do Povo naquele dia, e
comentou: “... Não há interesse. Quando alguém aparece o plenário fica
vazio, um ou dois deputados amigos do orador ouvem a história que já
conhecem.”

Estive em várias audiências públicas em Câmaras e na Assembleia.
Quando conseguimos falar não tem quase ninguém para ouvir. Não há
interesse em nos escutar em lugar seguro, confortável e próprio para
manifestações ideológicas e providências institucionais. Políticos e a mídia
ignoram as ações pacíficas: “É notícia fria”. Um preconceito herdado
da História Acadêmica onde Napoleão é astro, Pasteur é coadjuvante e
Gandhi faz figuração exótica.

No conto “1º de Maio”, de Mário de Andrade, um trabalhador, o “35”,
resolve comemorar o seu dia. Depois de seguidas desilusões andando
pelo centro de São Paulo ele chega à Estação da Luz, onde os jornais
informaram que políticos trabalhistas se encontrariam com o povo às 9
horas: “... Chegou tarde. Quase nada tarde, eram apenas nove e quinze
pois não havia mais nada, não tinha aquela multidão que ele esperava,
parecia tudo normal. Conhecia alguns carregadores dali também e foi
perguntar. Não, não tinham reparado nada, de certo foi aquele grupinho
que parou na porta da estação, tirando fotografia. Aí outro carregador
conferiu que eram os deputados sim, porque tinham tomado aqueles dois
sublimes automóveis oficiais”. Isto foi escrito há 80 anos.

Partidos políticos interessados exclusivamente na aquisição e
administração do seu quinhão do poder, formando uma casta e
desprezando a ideologia, não fazem oposição. Disputam as eleições
sempre com mais do mesmo, para garantir o próprio. Desprezam a
própria identidade, ficam surdos e fechados para cidadãos comuns que
querem participar.

Se a democracia fosse exercitada nas escolas desde o primeiro ano,
incentivando-se grêmios, academias, clubes, associações, ela pareceria
natural.

Se os canais de comunicação povo-poder forem restaurados e a
participação de ambos os lados for encarada com responsabilidade,
acredito que as manifestações populares de rua, quando necessárias,
transcorrerão mais vigorosas e pacíficas. É só seguir a nossa Constituição,
sem egoísmo, sem egocentrismo, e com espírito público.


Kleber Galvêas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com fevereiro, 2014



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