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“DUAS NOTÍCIAS MUITO IMPORTANTES”

Introdução

Há cerca de 30 anos, convidado pelo então prefeito Vasco Alves e os irmãos Pignaton, conheci o candidato a deputado estadual, Paulo Hartung. Foi quando da sua primeira fala aos vilavelhenses, na Escola Municipal Desembargador Ferreira Coelho, Glória. Simpatizei com ele por ele ser jovem, sua atuação no movimento estudantil e por propor renovação política. As informações dos cicerones, e o fato dele ser um idealista da região do Caparaó, eram ótimas referências. Passados os anos, vejo que, com meu voto, ajudei a construir uma farsa. 

Ontem, o programa eleitoral mostrou quase todos os candidatos falando em Educação. Lembrei-me de texto que publiquei em 2006, e que consta na página 117 do meu livro “Demolindo a Identidade Capixaba”. Aqui, os dois últimos parágrafos:

“Quando Paulo Hartung foi reeleito governador, sua primeira declaração (corajosa frente à votação pífia do Cristovan Buarque, candidato a presidente com a bandeira da Educação), foi de um segundo mandato dedicado a Educação. Fiquei surpreso: paga baixos salários aos professores; são poucos os concursados; os mais preparados deixando a profissão; professores trabalhando no turno da manhã, de tarde e de noite; professores sem horários de planejamento nas escolas; administração engessada, incapaz de remanejar professores em benefício do sistema educacional; não realiza encontros e reciclagem dos professores; as instalações são insuficientes e muitas delas inadequadas; o número de professores precisando ser multiplicado e melhor qualificado; insegurança dentro e fora das escolas.

Meu filho, professor concursado do Estado, após 8 meses como professor durante seu governo pediu demissão. Não suportou as condições de trabalho, burrice administrativa e insegurança. Não discordei do Homero. Durante o governo Élcio Alvares eu havia feito o mesmo ao vivenciar como professor a decadência das Escolas Polivalentes. Fiz greve de um sozinho (1977) e, na porta da escola concedi entrevista ao Nilo de Mingo (TV Gazeta, comandada, naquela época por Plinio Marquini), e nunca mais me senti estimulado a voltar ao magistério. Deixei também o Instituto de Educação, na Praia do Canto, onde treinei professores de Ciências. 
Senhor governador, testemunhei a sua ação predatória quanto à cultura e educação, durante o primeiro mandato. Fiel à causa da educação sempre estarei pronto para aplaudir aquele que, com humildade se esforça e aprende, para cumprir a palavra fácil empenhada, embora tardiamente, priorizando a educação”.

“EDUCAÇÃO AINDA QUE TARDE”

Publicado em 2006.

 

DUAS NOTÍCIAS MUITO IMPORTANTES

Dois artigos publicados em A Gazeta (16 – 08 – 2014) me levaram a refletir bastante sobre o destino do Espírito Santo após a próxima eleição. Nas pesquisas feitas neste início da campanha eleitoral aparecem na frente, disputando o governo estadual, o atual e o ex-governador. Disputa curiosa, pois o governo de um parece o segundo tempo do outro.

No primeiro artigo, “Anulada ação que pedia fim de incentivos fiscais” – Danilo Victor informa que foi arquivada a ação popular promovida pelo cidadão bacharel Sérgio Marinho de Medeiros Neto, que contestava os incentivos fiscais que permitiram a criação do Instituto Sincades. Ação semelhante corre no STF.

Arquivada a Ação Popular adiou-se o fim da privatização do autoritarismo na área cultural, instituído com a Lei Sarney e imitado por quase todos os Estados. Aqui no ES sua expressão máxima foi a criação dos incentivos via Sincades: sindicato patronal do setor atacadista e distribuidor do Estado. O maior volume de recursos obtidos em nome da cultura capixaba passou a ser recolhido e gerenciado por um sindicato, sem sequer ser ouvido o Conselho Estadual de Cultura. O Conselho recriado por Eurico Rezende vinha desincumbindo-se muito bem das suas atribuições, até ser arruinado pela desastrada lei do então deputado Paulo Hartung, assinada pelo governador Camata. Na época falei com assessor do deputado, que eu havia ajudado a eleger, sobre a impropriedade desta lei, e previ as conseqüências da sua aplicação num almoço em palácio e em artigo que publiquei.

O estilo imperial do governo Paulo Hartung sempre se revelou ao longo de sua carreira política. Logo após ser eleito governador deixou o partido que o elegera; o ex-líder estudantil, que defendia agremiações e ideologia passou quase todo o mandato sem partido. “Grampo na Rede Gazeta” foi manchete de A Gazeta, 11 – 12 – 2005, denunciando amplo projeto de espionagem do governo. Suas prisões abarrotadas, apelidadas de “masmorras medievais” pela mídia nacional nos envergonharam internacionalmente...

Eleito prefeito de Vitória, Paulo Hartung nomeou um amigo Secretário de Cultura, que em entrevista (“Cultura da Pedição” – A Gazeta), revelou: “não gosto de conversar com artista”. Ele já havia sabotado (por ordem superior) um concurso popular de trovas em homenagem ao aniversário de Vitória, quando o poeta Otinho se apresentou pela última vez. Sem o apoio prometido pela Prefeitura de Vitória, o evento inédito aconteceu no chão da Praça 8, promovido pela Prefeitura de Vila Velha. Marcamos com simpatia e versos carinhosos o aniversário da capital vizinha, embora seu prefeito tenha nos dado as costas. O egocentrismo de Paulo Hartung desclassificou um fato cultural inédito. Meses depois, em reunião política no Clube Atlético de Vila Velha perguntei ao candidato ao senado o porquê da indiferença quanto àquele evento. Sorrindo respondeu que não gostaria de ver a turma do Vasquinho (então prefeito de Vila Velha) em sua cidade.  

Eleito governador posou como “papagaio de pirata” em todas as visitas do presidente ao nosso Estado. Recebeu com pompa e circunstância, para almoço em Palácio, o ex-ministro José Dirceu, já processado pelo STF. Mantida essa postura subserviente continuaremos a enviar recursos volumosos para o governo federal, que nos colocou como penúltimo na fila de repasses de recursos federais. Não recebemos nem 10% do montante da nossa contribuição ao erário federal. Alguns Estados com bancadas federais menores do que a capixaba, conseguiram reverter essa situação e recebem mais do que contribuem.

No curto período de meia dúzia de anos que antecederam o seu primeiro mandato, a capacidade de investimento do Espírito Santo, saltou de R$ 250 milhões, para mais de R$ 1 bilhão. Ficamos ricos? Nunca houve tanto dinheiro na mão de um governador, mas também nunca cresceram tão rapidamente tantos problemas para o povo resolver: segurança, saúde, meio ambiente, transporte, mobilidade urbana, educação, cultura, moradia, privacidade, higiene, burocracia, identidade, vocação, autoestima, imagem...

Paulo Hartung, ao assumir o governo estadual, ignorou o Fundo de Cultura, criado no final do governo anterior. O Conselho de Cultura, depois de esvaziado de suas principais funções (tombamentos e normas) permaneceu inativo. Em manifestação explicita de submissão provinciana, ficou estabelecido que os projetos culturais, pretendentes ao apoio do seu governo, passariam pela aprovação de um avaliador escolhido fora do ES, e o “Masmorrão” seria gerenciado pela Fundação Getúlio Vargas. Estamos falando de cultura... Parceria foi trocada por paternalismo elitista; desvirtuando o que é Cultura, até por definição.

Absurdos foram acontecendo: O Espirito Santo apoiou uma Escola de Samba do Rio de Janeiro que degradou a imagem da heroína Maria Ortiz. Cultuada por nós, há quatro séculos, como paradigma da valentia cívica e guardiã da nossa identidade, ela foi apresentada na Sapucaí (maior palco do país) como prostituta. Alguns figurantes capixabas proeminentes, só no sapatinho, sem usar a cabeça, participaram na Avenida da evolução do infamante desfile. O castigo veio a galope: a escola “capixaba” foi rebaixada e, surpresa, venceu a Vila Izabel patrocinada por Hugo Chaves.

Vultosa quantia (que daria para montar um museu) foi amealhada (não havia previsão orçamentária), para pagar a visita da exposição itinerante de esculturas de Camille Claudel ao Espírito Santo, promovida pela viúva de Roberto Marinho. Na mesma época, franceses dedicaram o Festival da Sardinha na Bretanha, ao nosso congo. Durante os meses que antecederam ao festival imprimiram como propaganda do evento “Brésil – Barra do Jucu – Espírito Santas”, em milhões de latas de sardinhas vendidas para o mundo, por várias fábricas da Bretanha; cartazes gigantes e folhetos foram distribuídos por toda Europa. Os franceses, que estiveram aqui na fase de pesquisa nos escolheram após percorrerem diversos pontos de pesca da sardinha (manjuba) no litoral do Brasil, e se responsabilizaram pelo transporte, hospedagem, alimentação, palco e assistência na França. Ficou a cargo do nosso governo apenas as passagens aéreas.

Nos meses preparatórios da viagem, foram escolhidos representantes das diversas bandas capixabas. Os barrenses (os convidados) abriram mão da hegemonia em favor da participação de representantes de outras bandas da Serra, Vitória e Cariacica. Novas bandeiras foram pintadas, casacas elaboradas, tambores decorados e uniformes engomados. O entusiasmo dos mais idosos (quase todos eram octogenários) era tão grande, que aprenderam alguns versos da Marselhesa para tocar em ritmo de congo. Tudo estava pronto para a partida, quando foram informados de que o governo do Estado não cumprira a sua parte, não havia passagens para os conguistas, que iriam tocar e fincar o mastro de São Benedito, na França. Os franceses, decepcionados, providenciaram dez passagens e com este punhado de capixabas bateram tambores e fincaram o mastro após missa campal em Douarnenez. (Veja fotos na pág. 188, “A História da Barra do Jucu” – Homero Bonadiman Galvêas).

Educação Artística é matéria curricular de todas as séries das nossas escolas. Um museu de arte é equipamento indispensável nesta aprendizagem. Nosso único museu, com exposição permanente da sua coleção continua a ser o modesto Museu Atelier Homero Massena, fundado em 1986 pela Prefeitura de Vila Velha. O “Masmorrão”, apelido óbvio do Cais das Artes, cujo projeto foi escolhido sem concurso público, deixou de revelar em exposição, ainda que virtual, o potencial da nossa Escola de Arquitetura, escritórios locais e do exterior interessados em nós. O projeto “premiado” está sendo construído em local impróprio. No ponto, tantas vezes escolhido por nossos pintores para instalar seus cavaletes e captar do melhor ângulo o cenário da Baia do Espírito Santo, pintando suas telas. Se este local pudesse ser revisitado por Massena, Fanzeres, Celina Rodrigues, Aldomário Pinto e outros pintores que ali trabalharam, ficariam muito tristes. Os enormes edifícios fechados, para “inserir o ES no circuito internacional das artes”, emparedaram o espaço. Isto aconteceu, por absoluta falta de visão política do governante: privatizou em nome do interesse social, um espaço de utilidade pública, a praça. Contrariando uma importante disposição transitória da nossa Constituição Estadual. Um anfiteatro minimizaria a ocupação da praça e somaria aos espetáculos apresentados, a belíssima paisagem local.

Mais uma vez o provinciano colocou “o carro na frente dos bois”. Não se cuidou de desenvolver potencialidades artísticas locais para ocupar este espaço, cujo orçamento milionário e alto custo de manutenção inviabilizaram e inviabilizarão tantos outros projetos culturais mais modestos, mais eficientes e principalmente autênticos. A produção local foi sufocada para construir um palco aonde o capixaba irá só para bater palmas. Como continua acontecendo no Palácio Anchieta: pagam caro e aplaudem entre artistas exóticos até as falsificações de Mondrian, que deixaram nosso palácio para irem direto para a cadeia na Itália.

A segunda notícia importante publicada no mesmo dia e no mesmo jornal foi da Mikaella Campos informando que “Operação da nova unidade (Usina 8, da Vale) elevará em 24% a produção total”. Esta é uma giganta indesejada naquele lugar, quase do tamanho das 7 usinas ali existentes somadas. Após muitos anos de derrotas na contenção da poluição das siderúrgicas localizadas  em Tubarão, e quando já se formava consenso da necessidade de redução dessa atividade naquele local, o governo Paulo Hartung autorizou a construção desta Super Usina 8, recentemente inaugurada. Isso afeta drasticamente a vida na capital e em seu entorno, a área mais densamente povoada em nosso Estado. Como explicar tamanho equívoco?

Ele escolheu e manteve no segundo mandato, como secretária do meio ambiente, a ex-diretora da empresa que fez os projetos de impacto ambiental para as grandes poluidoras. Empresas que mais contribuíram para a campanha eleitoral do seu partido, fato que apontei em Audiência Pública na AL, 2010, para deputados desinteressados.

É grave termos atores medíocres na condução de um processo político, que capitaneia transformações tão grandes, aceleradas e muitas vezes irreversíveis, em nosso Estado. O cidadão consciente sabe que o desprezo à Cultura é a pior traição do líder. É ignorar o legado dos ancestrais e a nossa identidade.

Minha intenção com este texto é contribuir com o debate eleitoral lembrando fatos já publicados, em jornais e livros, atitudes equivocadas de governantes. “Sem ódio e sem rancor”, como diziam os políticos antigamente, desejo cumprir dever cívico de cidadão que se informa, pensa, avalia e participa sua opinião. Sempre disposto a olhar para frente, sem viseiras! Mas, tendo a história como referência.  

Como jiboia, enrodilhado no palácio, o político sem ética que pula alegremente de um para outro partido, vai engolindo (cooptando, comprando, alugando, prendendo rabos, enganando, enrolando) ratos, raposas, caranguejos, sapos, passarinhos ingênuos, tucanos, cobras venenosas de todas as cores, fazendo muitos amigos, com prazo de validade apenas para o período eleitoral. Sem oposição ou crítica fica fácil assumir postura imperial e esquecer o que é partido, democracia e renovação.

Aprendizagem é mudança de comportamento e atitudes podem ser corrigidas com informação e educação. Estou pronto para aplaudir no final do governo aquele que eleito for probo e progressista, desenvolvendo nossas potencialidades atento à nossa vocação e sustentabilidade, tendo o povo em primeiro lugar.


“Eleições e Cultura”. Trecho de artigo publicado em 1998 e reproduzido em meu livro “Identidade Capixaba”, pág.101. Observando a ética defendo a atuação política suprapartidária do artista, em espaço próprio, e seu afastamento de cargos públicos. Os cargos burocráticos são para administradores sensíveis às causas culturais, pessoas que entendem a cultura popular e erudita como manifestação do povo. Cooptação de artistas para a área cultural do governo é, na prática, esvaziamento da base e da capacidade de crítica dos movimentos culturais. Nessa fase de eleições, livres e diretas, pedimos aos senhores eleitos que não fragilizem a cultura seduzindo artistas para cargos administrativos.

Cumprindo a Constituição (Art. 215) possibilitarão que artistas produzam suas obras em suas oficinas, ateliês, escritórios, palcos, palanques, picadeiros, coretos, avenidas, galerias, cinemas... onde são insubstituíveis. Restaurem suas secretarias e departamentos de cultura e com técnicos competentes, capazes de captar recursos e gerenciar o patrimônio cultural do Estado, possam promover a cultura. Reciclem os conselhos de cultura e possibilitem parcerias com as fontes produtoras que atuem convergentes com as propostas do seu partido, que foram apreciadas e aprovadas nas urnas.

Kleber Galvêas, pintor. Tel.: (27) 32447115 www.galveas.com

 

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