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EQUILIBRIO POLÍTICO

No séc. XX um pintor e um professor foram levados, pelo povo, ao comando dos seus países. Deu tudo errado. Foram governantes que, desprezando a cultura em favor de uma ideologia, violentamente oprimiram o povo. O professor era Mussolini; e o pintor, Hitler. 

Nada impede que, resguardadas as suas vocações e mantidas suas posições, certos profissionais inspirados se intrometam em questões gerais de interesse público e tentem colaborar apresentando “problemas” e soluções, oferecendo opiniões criativas. É o caso dos professores (filósofos, religiosos, lideres...), artistas (escritores, cineastas, pintores...), jornalistas (mídia impressa, eletrônica...) 

Não há impedimento político a cidadãos que exerçam determinadas atividades, mas todo jogo tem regras. É por isso que nas corridas oficiais, em circuitos ovais, os atletas de mesmo nível partem de formação enviesada, para que todos percorram a mesma distância. Não há vantagem.

Em nossa sociedade, os partidos políticos são institucionalmente abertos. Todo cidadão está legalmente habilitado a participar de disputas eleitorais.

Entretanto, todo empresário sabe como custa caro e demanda tempo anunciar e popularizar um produto na praça. Artistas, religiosos, jornalistas e atletas, por exercerem atividades públicas, obterem mídia espontânea, atenção geral e possuírem poder de comunicação, influenciam muitas pessoas, e competem com grande vantagem nas eleições.

Leis recentes restringiram a vantagem do capital, limitando seu uso e doações. É hora de avaliarmos se a vantagem de artistas, religiosos e esportistas, profissionais que interagem com o público, frequentando suas casas através da mídia espontânea, não é abuso de poder de comunicação e arranhão na ética. De seus espaços próprios, onde são personalidades únicas, inspiradas, insubstituíveis nos seus estilos próprios de realização e comunicação, certamente podem dar melhor e mais importante contribuição à política, do que em cargos públicos. Em uma república democrática, a boa política é a que promove a identidade e desenvolve a vocação do povo. Ela será sempre produto do somatório das forças sociais que interagem com independência, com ética e respeito mutuo.

Na minha condição de pintor, que não pinta de noite e que divaga dando suas pinceladas durante o dia, ficando “grávido” de ideias, só encontro tranquilidade e felicidade após o “parto” noturno, quando escrevo. Inspirado, normalmente inicio mais uma pintura (meu métier diário), planejo uma exposição, performance, instalação, ou...escrevo. Aí surge um problema: quando pinto eu sei quando o quadro está terminado, fico satisfeito; quando escrevo, permaneço insatisfeito, mesmo após o décimo rascunho. Portanto, ao prosseguir na leitura do que escrevi, procure a ideia, desculpando o pintor metido a “escrevedor”. 

A Cultura no Brasil, institucionalizada na era Vargas/Capanema e privatizada por Sarney, deixou de ser iniciativa popular e vem sendo tutelada, corrompida e empobrecida pelo governo, que não cumpre os Art. 215 e 216 da Constituição. Os agentes culturais não são mais parceiros do governo. Passaram a dependentes. Assim, a voz do professor, do jornalista e do artista independentes se faz oportuna para municiar a vanguarda, que sempre estará proclamando a liberdade, a fraternidade e a cidadania.

A cultura é o substrato de todas as políticas, em todos os lugares e épocas. Culturas diferentes propiciam políticas diferentes. Desenvolver a cultura valorizando a identidade, identificando a vocação de uma região, é exercer a boa política. Conjugar as forças sociais que interagem em sua formação é tarefa muito difícil. Havendo desequilíbrio, quando uma das forças sociais extrapola a sua própria posição, a cultura se transmuta em ideologia; e a democracia, em ditadura. Essa, ao contrário da liberdade, que não pode ser fracionada, existe com diferentes disfarces, usando máscaras (Economia, Religião, Etnia...) e vestindo fantasias originais vistosas (Leis, Decretos, Portarias...).  

Kleber Galvêas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com novembro, 2016 

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