PRATA QUE É OURO LEVA FERRO.

 Museus que exibem permanentemente suas coleções são instituições contemporâneas. Surgiram na queda da monarquia e ascensão da burguesia, com o poder mais próximo do povo. Montados como apoio à formação do cidadão, têm importância fundamental na Educação Artística, matéria curricular de todas as escolas do 1º Grau. Entretanto, no Estado, temos apenas um Museu de Artes Plásticas: o modesto e capenga Museu Atelier Homero Massena, em Vila Velha.

Museus, nem sempre tiveram vida tranqüila. Por conservarem o passado, foram violentamente atacados pelos Futuristas (Na história da Arte é a única corrente estética de direita; inspirou e apoiou o fascismo de Mussolini). Autor do Manifesto Futurista, Marinete, delirando ao som das metralhadoras que dizia ser a mais bela sinfonia, propôs desviar o curso do rio Sena para que arrastasse até alto mar, as velharias do Louvre. Se os Franceses tivessem topado essa parada, estariam se lamentando junto aos italianos, ainda inconformados com o fim trágico de “Leda e o Cisne”, tela de Leonardo da Vinci, queimada pela Inquisição. E nós também.

Durante o Carnaval na Barra do Jucu, que é descendente direto do Congo, pela vertente da crítica e informação social, um cidadão fantasiado, realizando uma performance no estilo de Diógenes (400 a.C.), carregava um estandarte enfeitado onde li dois Jongos: “A Ufes é cover/ Imitação barata/ Copia o exótico/ Ignora nossa prata” e “Museu da Vale/ Modernoso, fajuto/ Tsunami há de levar/ Lá pra alto mar.”.

O cidadão esclareceu que a crítica à Ufes, era em função do seu afastamento da sociedade que a sustenta; ao Museu da Vale, pelo dano à cultura local, tratada ali em último plano.

É fraca a Universidade que ao invés de pesquisar, voltando seu interesse para o desenvolvimento da comunidade onde está inserida, se perde em disputas internas e ignora a produção cultural local. A Ufes já exterminou o Museu de História Natural da antiga Fafi e o de Arte Sacra da Capela Sta Luzia. O Solar Monjardim está fechado para restauração por falta de conservação básica, como o combate aos cupins. A Ufes ignorou o MAM, de Roberto Newman e quase todas as iniciativas culturais privadas desenvolvidas em seu entorno.

O Museu da Vale, nascido Ferroviário, procura mostrar para o público uma feição de Museu de Arte, promovendo sua galeria de exposições temporárias. Museu caro, com atividades dispendiosas, coquetéis estonteantes e mídia poderosa, privilegia sempre o exótico, ignorando a prata da casa. Suas despesas são custeadas por incentivos fiscais, caindo em nosso bolso a conta do massacre cultural propiciado por leis do governo.

Leis de incentivo à Cultura e renúncias fiscais devem ser revistas. O governo que se diz acanhado na área econômica para investir em Cultura abre mão do seu programa cultural, que apregoou na campanha eleitoral consagrada pelo voto popular.

É impróprio o Estado investir milhões de reais, através de empresas privadas, em ações suntuosas fora do seu controle, e nunca ter recursos para apoiar genuínas e baratas manifestações culturais oriundas do povo. O Mestre do Folclore, quase centenário, nunca recebeu ajuda do governo só diplomas e medalhas, de quem usa sua imagem e música para se promover. Quando consegue aposentadoria, recebe um salário mínimo.

A prata da casa que para nós vale ouro, só não toma ferro no carnaval da Barra do Jucu.

Kleber Galvêas – pintor. Tel. 3244 7248 Fax. 3244 7115    www.galveas.com                           03/05

 

Rua: Antenor Pinto Carneiro, 66 - Centro - Barra do Jucu - Vila Velha - Espírito Santo - Brasil
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