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SABORES DA ILHA


Quando a Rainha da Inglaterra esteve no Brasil, sua primeira parada foi na Bahia, onde lhe ofereceram suco de pitanga, pela primeira vez.
Ela disse ter gostado muito, e a notícia se espalhou. Suco de pitanga foi oferecido a Sua Majestade em todas as capitais onde esteve e em Brasília.

A moqueca capixaba, sabor tradicional da nossa culinária, tem Vitória como referência, por ter sido esta capital (restaurante São Pedro) a primeira cidade a oferecer essa especialidade em cardápio.

Esse prato excelente, destacado na culinária nacional, é sempre o primeiro a ser oferecido ao visitante. Entretanto, como ao turista a nobreza não obriga repetir (noblesse oblige), vou lembrar três especialidades capixabas muito saborosas: moqueca seca de caçonete desfiado, bobó de fruta-pão e torta capixaba.

O bobó de camarão, sem azeite de dendê e pimentão, colorido com urucum frito na hora, trocado o aipim por fruta-pão e preparado com camarões miúdos, é nosso, delicioso.

A moqueca seca de caçonete desfiado, colorida e bem apimentada, anda um pouco esquecida, mas é sempre elogiada por paladares exigentes.

A torta capixaba, até pouco tempo, era feita em casas de quase todas as famílias. Na sexta-feira santa, quando trocávamos pedaços com amigos e vizinhos, acontecia uma grande comunhão comunitária. Era uma cerimônia tão marcante no nosso calendário, que era comum às pessoas perguntarem  umas às outras: “Onde você vai passar as tortas?”.

Fruta-pão frita, cozida antes, ou não, é iguaria sem par para substituir as torradas e biscoitos, que recebem em cima molho, pastinha, frios, homus oumesmo caviar. Servido como tira-gosto ou antepasto é só elogio.

Na era pré-refrigerantes, da geladeira a querosene e antes do liquidificador todo de alumínio tocado a manivela, os sucos capixabas eram: limonada,  tamarindo e groselha (groselha amarela, que se tornava vermelha ao ser fervida com açúcar). Fora o caldo de cana com pastel,  ainda muito procurado
por turistas e nativos, como lanche.

O doce mais apreciado pelos capixabas era o quebra-queixo. O toque estridente produzido pelo vendedor, batendo com varinha de ferro em argola do mesmo metal, alvoroçava a criançada em busca de moedas, para comprar um pedaço, que variava de tamanho de acordo com  o capital.

O vendedor armava o cavalete e sobre ele colocava o tabuleiro de madeira coberto com tampa. Com uma espátula cortava um pedaço do doce, e o entregava ao freguês, em minúsculo retângulo de papel-manteiga.

Os aperitivos mais tradicionais, encontrados em qualquer boteco da ilha eram: salsa-da-praia, carquejo e milome. Todos em infusão na cachaça. O primeiro se destaca pela cor e sabor semelhantes ao uísque envelhecido; o carquejo diziam aliviar o fígado, e o milome era místico.

O cipó milome tem esse nome por causa do formato de suas folhas, que lembram o órgão masculino completo. Cobrindo a copa dos arbustos, o cipó dá a  ilusão de que ali acontece uma reunião machista, de mil homens.

Na madrugada da sexta-feira santa os homens se reuniam e seguiam em caravanas até a boca do mato, para colher na alvorada a raiz do milome.  Ela era ralada ou picada e colocada dentro de garrafas com cachaça. Um gole dessa bebida era tomado todos os dias, para conservar a potência e fechar o corpo.

Sabor, arte e amor são vivências pessoais intransferíveis. Na Ilha do Mel (Guananira) olhando, pegando, escutando, cheirando e saboreando, estamos vivendo pertinho do céu, no purgatório. Nossa pena? O pó preto que respiramos.


Kleber Galvêas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com novembro, 2015

 

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