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APRESENTAÇÃO:

Geraldo Pignaton. 

"Se a oliveira fosse uma planta nativa de nossa flora, o mundo jamais teria conhecido e degustado uma azeitona." Por que ser assim? – Esta é uma constatação inconformada, de Kleber Galvêas, com a postura cultural de nossa comunidade formadora de opinião: nossa mídia e universidade desinteressadas de nossos reais valores; com nossa intelectualidade mais interessada nos outros, do que em aprender, pesquisar, conhecer e divulgar o nosso ambiente.

Bacharel em Economia, pedagogo, professor emérito, renunciou ao emprego público, estável por concurso, no magistério, ao constatar o desinteresse governamental com a educação, patenteada na falência do projeto PREMEN. Recusou-se a ser nivelado por baixo. Apanhou os pincéis que seu mestre, Massena, lhe entregara e retornou à pintura, assumindo-se definitivamente como pintor.

Ao longo de sua carreira artística destacou-se pela independência. Um dos fundadores da Associação e depois Sindicato dos artistas plásticos, afastou-se, ao perceber que a entidade se propunha a assumir atividade cartorial, na relação da Prefeitura de Vitória com a construção civil: criou seu próprio espaço, livre e aberto a todos, onde iniciou novos valores e mostrou resultado de pesquisas.

Rebelou-se contra o uso imperativo de tintas e materiais das papelarias, preconizando que o artista deva realizar pesquisas e buscar as inovações tecnológicas da globalização. A excelência da química e maquinário moderno, na produção das tintas e vernizes de uso corrente, não lhe passa despercebido. Investiga suas interações com nosso ambiente (luminoso e úmido) e usa o que aprova.

Alheio a preconceitos, busca a verdade pela lógica, cartesianamente, sem se importar com dogmas tradicionalmente arraigados ou opiniões consagradas. Assim, elevou Robério Martins do fosso histórico português dos traidores e o entronizou no pedestal do proto-mártir, do primeiro herói das Américas. De igual forma, negou a versão do nome "Vitória" se dever à luta contra os índios, correlacionando-o com a vitória cristã na Europa.

Solidário e reconhecido lutou e salvou a memória e obras de Homero Massena, seu mestre e pai afetivo, do ostracismo a que estavam relegadas, pela ignorância do nosso meio. Para tanto, visitou redações e autoridades; buscou patrocínio; organizou 2 catálogos e várias exposições comemorativas; criou o museu Homero Massena, dirigindo os trabalhos de restauração e montagem. Recuperou inúmeras obras de nossos artistas, prestes a se perderem para sempre (Massena, Fanzeres, Parreiras, etc.). Como pintor, restaurador e escritor, cobra solitário e incessantemente, das autoridades e da população de Cachoeiro do Itapemirim, o reconhecimento e a criação do museu de seu maior e ignorado conterrâneo, Levino Fanzeres.

Galvêas, que com Massena e Fanzeres compõe a tríade de primeira grandeza da pintura capixaba, é uma figura ímpar, tão absolutamente comum, quanto Fernando Pessoa: observador curioso e atento à simplicidade e ao seu entorno humano, ecológico e cultural.

A ele devemos a iniciativa da primeira fabriqueta de "casacas" (1980) o resgate do patrimônio folclórico da congada da Barra do Jucu (1974 - por conseqüência do ES), e o reconhecimento de sua característica original de jornalismo cantado. Estabeleceu o parâmetro de analogia entre o congo e o carnaval irreverente da Barra. Registrou e imortalizou conhecimentos, comportamentos, falares e interjeições típicas de seus habitantes. - De igual forma, sem sua iniciativa no Conselho Estadual de Cultura, inexistiria hoje a Reserva Ecológica de Jacarenema, da qual, até o próprio nome resgatou. - Grande estudioso da Ilha de Trindade luta, sem sucesso, por sua integração, de fato, ao município de Vitória.

A paisagem, flora, a composição étnico-histórica e a arquitetura primitiva regional o deslumbram. Sensível, a ponto de refletir nas telas as nuances das variações tonais da vegetação, torna possível identificar, em suas obras, o efeito do momento pluviométrico na região, quando da pintura de uma tela. Sagaz, não só percebeu que nossas árvores florescem por todo o ano, como inventou suas próprias flores.

Dentre sua extensa produção artística destaca-se as telas de flores, originalíssimas, que inexistem na natureza, senão por sua síntese. Era um dia de fincada de mastro de São Benedito, de festa de congo. Ao som dos "jongos" e tambores, mastro aos ombros, dançava-se pelas ruas, atrás da bandeira do santo, pintada por ele. Eu tocava reco-reco, Kleber puxava a fila que carregava o mastro, onde uma devota atou flores, bem próximas a seu rosto. O balanço da dança das flores conquistou-lhe a alma, impregnou perpetuamente sua memória com a imagem do movimento fugaz e se perenizou em sua obra, livres e soltas, jamais em vasos: milagre de São Benedito!

Humanista convicto, por necessidade artística, define arte como a relação que se estabelece entre artista e observador, através da obra. Sem observador, inexiste Arte. Como artista considera o observador fundamental para a Arte acontecer. Transformou o pó de minério de ferro, que polui a atmosfera da Grande Vitória, em matéria prima, na série "A VALE A VACA E A PENA"; (espécies de "guernicas" capixabas, que recusou vender, para a empresa poluidora, doando-as à casa da Memória de Vila Velha).

O trabalho artístico de Kleber Galvêas extrapola a pintura e flui, também, pela escrita. Iniciou esta prática ainda criança no Colégio Marista, onde fomos colegas no curso primário. Hoje somos vizinhos, vieram as crônicas e colaboro na revisão. Por seu conteúdo, nem todas foram publicadas. Aqui reunidas, compõem uma amostra e precioso documento do pensamento e das preocupações sociais do artista. Facilitam o entendimento de seu trabalho como pintor. Ambas convivem, no seu ateliê, como faces indissociáveis de seu talento, para enriquecimento cultural de seus expectadores: nelas, à noite, Kleber Galvêas pinta, com letras, telas literárias.

 

Rua: Antenor Pinto Carneiro, 66 - Centro - Barra do Jucu - Vila Velha - Espírito Santo - Brasil
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