PÔ, POLUIÇÃO...

Comédia didática em 3 atos
Para escolas capixabas
2 atores – palco pequeno – cenário simples
Obs.: O texto deve ser adaptado à fala natural dos atores. Por exemplo, uma das primeiras frases, “Que beleza de céu!”, pode ser trocada pelas seguintes opções: Que céu lindo! Que maravilha de céu! Cara, que céu! A noite está bonita! Você já viu tanta estrela no céu?... ou ser suprimida.


ATO 1 – cena 1


Abre o pano. Praia, céu estrelado. Amigo 1 na praia. Luz de luar, sons de praia, vai amanhecer 2000. Explodem os últimos fogos. Roupa branca, bermudas, descalços.
No escuro A1 agitando freneticamente uma vara de + ou – 1 m., flexível e que tem na ponta uma esponja de bom - bril em combustão. As faíscas têm combustão instantânea, o efeito visual é extraordinário, lembra as faíscas de um alto forno. O risco de incêndio é mínimo se o bom – bril estiver preso na ponta da vara com arrame e ela for bem agitada, liberando apenas faíscas. Essa é uma brincadeira de crianças da Barra do Jucu nas noites de São João, Carnaval e Ano Novo.

A1- E aí? Tá boa a água?
A2- (Entrando molhado, de sunga, como se viesse do mar, recebe a toalha jogada por A1, se enxuga e coloca a roupa enquanto conversam)Birr... A água tá boa, o vento aqui fora é que é o bicho.
A1-Eu sou meio psico, se der um mergulho no mar uma hora dessa da madrugada, começo a sentir os sintomas de uma gripe que pode até não vir, mas eu já vou espirrando e tossindo. Acho que fui o menino que mais ouviu a frase: “Leve o agasalho, você vai se resfriar”. Este ano capricharam nos fogos. Mas olha... (apontando o céu) que coisa linda tá hoje.
A2- Que beleza de céu! Este sim é o maior espetáculo da terra. Acho que é por isto que Deus cobra tão caro o ingresso e reserva os melhores lugares para os santos e mártires.
A1- É, mas eu vou dar o meu jeito, vou para lá. Quando morrer quero ter minhas cinzas lançadas lá do alto do morro do Convento num dia de vento forte, sul ou nordeste, para subir e me espalhar pelo céu. Se bem que eu sei que tudo que sobe ( gesto com a mão)um dia cai em algum lugar. Olha o pó de minério...
A2- O que era aquilo que você rodava aqui enquanto eu estava na água? Parecia uma girândola espetacular.
A1- Você me lembra um amigo do interior que depois de passar alguns anos no Rio trabalhando, voltou cheio de sotaque à fazenda de café onde foi criado. Muito besta ficava fazendo mil perguntas sobre tudo que via como se nunca tivesse vivido ali. Até que com o pé sobre o rodo de juntar café, insistia na pergunta. O que é “issto”? Como ninguém respondia, bateu o pé forte na pá do rodo e o cabo bateu na sua testa. Aí ele xingou: êta rodo desgraçado. A turma toda caiu na gargalhada. A girândola que você viu aqui hoje, você vê todo dia lá na fábrica.
A2- Como assim? Era ferro incandescente?
A1- Isso mesmo uma bucha de bom – bril pegando fogo. Aprendi com a meninada aqui da Barra, onde bombinhas são folhas de Abricó e de Carobinha, e o balão é maria preta, uma folha de jornal amaçada, estufada e presa nas pontas por um palito de fósforo riscado. Vamos fazer uma?
A2- Veja aquelas nuvens que começam a aparecer lá no horizonte, parece um teatro de marionetes ou melhor de sombras chinesas. Com a luz por traz ,vão mudando de formas; umas engrossam, outra afinam, as de cima se espalham e as de baixo se adensam, alimentando a imaginação com essas metamorfoses. É um privilégio ter no horizonte o Atlântico sul, ainda mais a leste.
A1- Um natal chuvoso tem a sua compensação, noites lindas e estrelas cintilantes nos primeiros dias do ano. Parece tudo limpo, o azul está profundo, as estrelas brilhantes... pena é que vamos sujar tudo isso de novo.
A2- É triste que o nosso crescimento ainda hoje exija tamanho sacrifício. Nossas belezas naturais, História, carinho do nosso povo e localização no mapa do Brasil, sempre me levaram a crer que o nosso futuro estava no turismo. Mas turismo não combina com poluição. O que me deixa triste também, são os exageros na iluminação pública, principalmente quando teimam em ofuscar o céu de todas as nossas praias. A beira mar é onde assistimos melhor o nascimento das estrelas e temos o horizonte mais distante e amplo. Perdemos essas referências e muito do romantismo da nossa cidade.
A1- Já não temos praças. Os edifícios ficam cada vez mais altos bloqueando a visão, agora ofuscado o céu das praias com a onipresente iluminação, só nos resta viajar para longe da nossa cidade se quisermos ver o céu que está em todo lugar.
A2- Tem uma música da minha infância, cantada pela Dalva de Oliveira que dizia assim: “E se a gente se desse as mãos o mundo seria melhor. Se a gente se olhasse nos olhos, tanta coisa seria melhor. E aqueles que passam sem ver sem sequer perceber a existência das flores, haveriam de olhar com surpresa a grande beleza de um por do sol”.
A1- Interessante como alguém pode olhar com surpresa um espetáculo com hora marcada, que acontece todos os dias desde que ele nasceu? Para nós capixabas é ainda mais incrível. Foi apreciando o nosso crepúsculo em 23 de maio, que o azul, branco e purpura, cores do nosso céu nessa época do ano, foram escolhidas como as cores da nossa bandeira. A frase “Trabalha e Confia”, sem segurança, saúde e educação precárias, salários atrasados e vandalismo ambiental, devemos ao Positivismo de Augusto Conte. Mas as cores, tiramos do nosso céu de maio.
A2- Todo brasileiro devia se ligar mais no céu. A bandeira brasileira tem estampado no centro o céu de São Paulo na noite de 7 de setembro. Não são estrelas quais quer como na bandeira americana, todas têm nomes próprios e estão agrupadas nas suas constelações. A faixa branca com a frase também positivista “Ordem e Progresso” representa o plano equatorial terrestre. Quando a bandeira foi feita não tínhamos nenhum Estado no hemisfério norte, por isso as estrelas são todas austrais ou zodiacais. Uma única boreal, que aparece sozinha acima da faixa representa o Pará, que tem um pouco de terra além do equador. Ainda não vi a bandeira depois que o Amapá e Roraima viraram Estados. Eles ficam no hemisfério norte, devem ser representados acima da faixa.
A1-Quer dizer que as novas bandeiras do Brasil terão três estrelas acima dá faixa “Ordem e Progresso”. Isso se respeitarem a tradição e se o responsável pela heráldica nacional tiver noções de astronomia, como quem fez a bandeira. Falando nisso você sabe qual estrela na bandeira representa o Espírito Santo.
A2- Essa é fácil. A Intrometida do Cruzeiro do Sul. Aquela pequenina que fica ali, (apontando o céu) quase no sovaco da cruz. Viu como está fraquinha perto de Minas, São Paulo e Rio de Janeiro?
A1- (concorda com gesto e ri) Coisa curiosa... veja aquela estrela vermelha(apontando o céu mais para o centro) aquela que fica na constelação de Orion, o Caçador. Encontrou? As Três Marias formam o cinturão do caçador, ela fica mais para cima e a direita. Betelgeuse, essa gigante vermelha marca o ombro esquerdo de Orion, está a 720 anos luz de distância da Terra. Esses dias pensando, fiz as contas. Se conseguirmos construir um super foguete que faça a viagem da Terra a Betelgeuse em 200 anos, teríamos ainda 20 anos para lá montar um hiper telescópio e focalizar a terra no Atlântico Sul. Sabe o que veríamos?
A2- Ora, 200 + 20 = 220 – 720 = 500. Veríamos a luz que refletida partiu daqui da Terra há 500 anos atrás. Como estamos em 2000, veríamos o que se passou aqui em 1500. Assistiríamos a caravela de Pedro Alvares Cabral, descobrindo o Brasil.
A1- Teoricamente isso é possível, eu sei. O problema é fazer uma viagem tão longa em apenas 200 anos e condensar num telescópio uma luz refletida da Terra, que não se degrada mas se espalha na razão direta do quadrado da distância. E que distância.
A2- Orion é minha constelação preferida. Interessante que os Árabes, que não representam a figura humana, vêm ali uma arvore, “Al Giauza”, a nogueira. Para quem vive no hemisfério sul, Orion representa o verão. Seu porte é majestoso levantando com a mão esquerda uma leoa abatida com o tacape que está na mão direita.(mostra a posição do caçador) Durante o verão, quando o Escorpião, nossa constelação de inverno, surge no horizonte, o caçador trata de se esconder no poente. No inverno ocorre o oposto, quando o caçador surge no horizonte, é a vez do Escorpião se esconder no poente.
A1- É, só a ignorância nos faz tão apáticos quando nos roubam o céu, enquanto vivemos de olhos abertos aqui na Terra. Às vezes duvido de que certas visões alcancem o cérebro de algumas pessoas, tamanha insensibilidade ou desinteresse. Todo mundo parece desligado do ambiente.
A2- Ora, só se luta pelo que se ama e só amamos o que nos conhecemos. Embora a astronomia seja uma ciência antiquíssima estudada por civilizações pré-históricas, hoje estamos muito mais interessados na astrologia, nos horóscopos. Se a azeitona que apreciamos tanto, fosse brasileira, ainda hoje seria uma frutinha do mato como tantas outras. Você já experimentou comer uma azeitona tirada do pé? Dura, amarga, imprestável. Por aqui, tendo tantas facilidades, preferimos procurar outra coisa do que inventar um processo como o que os egípcios inventaram para curtir a azeitona, transformando aquela porcaria em uma iguaria. Aqui a azeitona quando muito seria usada como pelota para as setas dos moleques, que nem o sombrilho e a mamona. A mata Atlântica e nossas restingas, ricas em resinas, óleos, alcalóides, tanino, tubérculos e mil outras coisas, estão indo para as cucuias, sem ao menos conhecermos as suas possibilidades.
A1- Cara, sabemos muito mais sobre o elefante, tigre, leão, girafa, do que sobre os nossos bichos. Pouca gente já ouviu falar no chupati, um dos menores marsupiais do mundo, o mão pelada, a irara. Isso para não mencionar aves e peixes, como o morobá, camboatá e muçum, nossa enguia saborosíssima que dá uma moqueca de primeira qualidade.
A2- Fico perplexo quando observo a nossa falta de interesse por nós mesmos e pelo nosso ambiente, quando sabemos mais dos outros, do que de nós mesmos. Quando nos dispomos a imitar ao invés de contribuir com a nossa experiência e valores, enriquecendo o acervo cultural da humanidade.
A1- Esse papo na primeira madrugada do ano está ficando sinistro. Eu sou um otimista apaixonado por este país, por isto vamos fazer esta maria preta subir. Onde você vai passar o carnaval?
A2- Na Barra do Jucu. Lá temos um carnaval criativo de iniciativa popular, aberto a todos, com músicas próprias muito inteligentes. A Barra tem um astral mágico, me sinto alegre só em estar lá.
A1- O carnaval é o maior patrimônio cultural do Brasil. Não se trata de um bem, mas de postura humana, muito mais difícil de se conseguir de um povo. Um foguete à lua qualquer país pode mandar, basta haver dinheiro e contratar um punhado de técnicos alemães ou de outra nacionalidade qualquer, porque hoje quase todos os países já sabem mandar bem aí. Mas um carnaval, nem contratando milhares de consultores e assessores brasileiros não se faz em qualquer lugar, é algo muito mais complexo.
A2- No carnaval com o povo na rua, percebemos como nossa sinfonia histórica, cujos primeiros acordes atenderam a batuta do padre Anchieta lá em São Paulo, se fez geneticamente rica, criativa e comunicativa.(canta o refrão) “Eu sou brasileiro, com muito orgulho, e emoção”. Só nos falta aqui o general frio para botar ordem na casa, induzindo ao planejamento e punindo no inverno quem não se preparou para enfrentá-lo. Há pouco tempo vi uma propaganda turística do Espírito Santo, veiculada em São Paulo nos anos 70. O slogan ,referindo-se a Anchieta, dizia assim: “Faça como o fundador desta cidade, vá para o Espírito Santo”.
A1- Por falar em Anchieta, fiz a caminhada no ano passado e passamos aqui pela Barra. Ele veio para o Brasil com 19 anos, já padre jesuíta, depois de cursar a Universidade de Coimbra. Em 2 anos aqui, compôs a primeira gramática da língua Tupi. Seu pai era um nobre Basco.
A2- Você sabia que ele era filho de uma guancha? Uma nativa de Tenerife, nas ilhas Canárias. Os guanchos eram “índios” tão primitivos que desconheciam o metal no século XIV e tinham feições do homem de Neandertal. Eram guerreiros valentes que por mais de 200 anos deram trabalho aos espanhóis. Foi em Tenerife que o Almirante Nelson, o mais famoso herói inglês, aquele maneta que fica no alto de uma coluna em Trafalgar Square, Londres, perdeu o braço.
A1- Acredito que sendo Anchieta um dos homens mais cultos do ocidente no século XVI, inteligente e mestiço, amparado na sua origem estimulou casamentos estáveis entre colonizados e colonizadores, ajudando assim a formar o Brasil do jeitinho que é. Afinal o primeiro mundo, já rico e confortável, pode vir aqui aprender a lição mais complicada: “Como fazer amigos e conviver com os diferentes”. Eta Brasil porreta!
A2- Recentemente pesquisas genéticas feitas pela UFMG, mostraram que a participação do elemento indígena na formação do povo brasileiro, foi muito maior do que imaginávamos. De 100 mineiros que se declaravam brancos, cerca de 70 eram mestiços.
A1- As vezes até penso que a insistência de certas pessoas em afirmar, sem provas, que eliminamos nossos índios, na verdade esconde o desejo de se afirmarem como puro sangue europeu, com pedigree, que nem cachorro e cavalo.
A2- Ë verdade, isso aqui no Brasil soa muito estranho. Basta nos olharmos no espelho para reconhecermos traços dos nossos ancestrais. Você se lembra da fisionomia dos Marechais Rondon e Castelo Branco? Dois dos brasileiros mais poderosos do século passado e nitidamente descendente de índios.
A1- Aqui não tivemos nada parecido com o que ocorreu na América do Norte e na Argentina, por exemplo. Os presidentes Jackson e Rosas, foram eleitos e reeleitos nesses países porque suas propostas políticas incluíam eliminar os nativos dessas regiões. Aqui no Brasil duvido que alguém com uma bandeira dessa fosse eleito Vereador.
A2- É muito reconfortante poder estar com quem se gosta e se casar com quem amamos, sem impedimentos nem Romeus e Julietas, só love. Devemos certamente a essa liberdade e estado de espírito, a excelência dos nossos artistas, da nossa música, a riqueza do nosso folclore, e o calor humano do brasileiro. Estão chamando a gente.
A1- (canta e batuca) “Tava no meu sono sossegado, mandaram me chamar, disseram que na vida não tem jeito, tem jeito meu pai, o que que ha?” E beleza, viva São Benedito! Um feliz ano novo para nós todos. Os fogos estavam lindos, foram mais de 10 minutos, não é?
A2- É. E aí, marcou para quando a viagem para a Europa? A família vai junto?
A1- Vamos no princípio do mês que vem, vai todo mundo. Chegando ligo para você. Vou fotografar, fazer uma coleção de slides que terei prazer em mostrar para você.
A2- Ano que vem, se tudo correr bem vou com Martinha, dizem que o maior beneficio de uma circulada no exterior é aprender a ver o Brasil. (vozes chamando)
A1- O pessoal tá chamando, vamos? Chegando te ligo. ( Voz e luz diminuindo a intensidade a medida que atores caminham) Olha o Pedro, a Cambalhota que ele deu lá na areia. Tá ficando um meni...


ATO 2 - cena 1

Abre o pano. Sessão de slides europeus na sala da casa do Amigo 1, depois de três ou quatro da Itália, mostra o Scala de Milão. Amigo 1 e Amigo 2 assistem atentos.

A1- Ah! Espera aí. Isso me traz uma grande recordação. (vai até CB e canta uma ária da ópera Rigoletto).
“La donna è mobile qual piuma al vento, muta d’accento e di pensiero.
Sempre um amabile leggiandro viso, in pianto o in riso, è menzognero.
La donna è mobil qual piuma ao vento, muta d’accento e di pensier, e di pensier, e e di pensier.”
A2- Bravo! Bravo! Você então esteve no Scala e aplaudiu a Rigoletto ? Que legal! Gosto de todas as óperas de Giuseppe Verdi: Nabuco, Otello, Aída, La Traviata, Il Trovatore. Eu vi Aída em 86, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Uma beleza de espetáculo, cenários grandiosos e inesquecíveis, uma loucura...
A1- A vida de Verdi é que foi uma loucura. Tomou pau no vestibular para música, mas depois a escola que o reprovou passou a ter o nome dele. Eu a visitei em Milão. Apostando na sua arte passou fome e frio, perdendo a mulher e os dois filhos doentes e na pobreza, ficando desorientado. Apanhado no fundo do poço por um amigo que o encontrou abandonado numa praça e curvado na neve, compôs “Nabuco”, metáfora contra os opressores austríacos que dominavam a Itália. Após tantos fracassos, a partir de Nabuco, só colecionou sucessos e viveu 88 anos, uma raridade na época, gozando enorme prestígio e riqueza.
A2- Pelo que sei, foram mais de 25 óperas geniais. Este ano Rigoleto abre a temporada no Municipal do Rio de Janeiro, eu vou lá ver.
A1- Isso mesmo. Eu estive no Scala e aplaudi Rigoleto, mas na verdade a grande lembrança que me trouxe o slide e que me deixou muito feliz é outra, diz mais com o nosso trabalho.
A2- Ora esta, não me diga que você cantou por lá as músicas do nosso coral?
A1- Não, cantei baixinho, só para acompanhar o tenor. Você sabe, tenho sangue italiano e a implicância com as mulheres que Verdi arruma nessa ópera me diverte muito. Não consigo ouvir sossegado. Treinei muitas vezes esta ária aqui mesmo no coral da companhia. Nunca tinha cantado sozinho, hoje foi a primeira vez.
A2- E o coral? Você continua entusiasmado?
A1- Desde que comecei a cantar no nosso coral tudo melhorou, sou muito festejado. Minha mulher e filhos cara, falam nisto sempre com muito orgulho. Tem sido muito legal, já somos algumas dezenas e temos um ótimo repertório. Além do mais quem canta seus males espanta...
A2- Bem, mas então qual é a grande lembrança que lhe trouxe o Scala?
A1- A cidade meu amigo. Barcelona havia sido uma grande surpresa, mas Milão francamente, eu não esperava...
A2- Como assim? Você sabe que Milão esta para a Itália, como São Paulo está para o Brasil. Sempre foi uma grande cidade, muito próspera.
A1- Pois é, grande e encardida. Mas agora, grandona e bonita. Uma Anita Ekberg, exuberante após o banho na Fontana di Trevi. Conseguiram diminuir bastante a poluição. Aliás na Europa toda vi novidades. O Tâmisa e o Sena que não via desde o verão de 68, quando a podridão das suas águas me deixou maluco, estão sadios e limpos. Lisboa onde presenciei uma chuva de lama, está bem melhor. Cara, se foi possível reverter em Milão, aqui também será.
A2- Pelo que sei de Milão, o ar lá era pesado e colorido.
A1- Eu sempre gozei os patrícios italianos dizendo que Rafael havia feito viagens secretas ao Brasil para poder pintar os céus luminosos e azuis de seus quadros. Agora fui o alvo das chacotas, por que enquanto o céu deles fica cada vez mais azul Rafael, o nosso fica cada vez mais sujo e menos azul. Lá para os lados de Tubarão, à noite, lembra Bosch no Juízo Final, tela que dá medo só de olhar, e curiosamente foi pintada muito antes da Revolução Industrial, ele quis representar o colorido do inferno.
A2- (Passa mais alguns slides da Itália) Você falou com tanto entusiasmo do ar de Milão que parece que foi a coisa mais interessante que viu na Europa, não me diga que foi até lá só para respirar?(risos) Se sei, ia te aconselhar: Pico da Bandeira, Pedra Azul, Santa Tereza. As praias embora mais ricas em oxigênio, estão com ar muito poluído, onde termina a influência de Tubarão, começa a de Ubu.
A1- É, as obras de arte e os grandes espetáculos, não são mais as grandes novidades da Europa. Mas Milão, quem te viu e quem te vê, poxa vida, foi mesmo emocionante. Muito agradável. Foi como um índio que pela primeira vez viu num espelho a sua imagem. Fiquei admirado, olhando, olhando, tentando enxergar ali o nosso futuro. Uma vitória, numa guerra muito difícil. Capital x Razão, meu caro.
A2- (Passa slides da Grécia) Você esteve lá também? Que beleza, é um lugar que um dia vou visitar.
A1- Para quem está na Itália, fica muito fácil fazer um cruzeiro pelas ilhas gregas. É 3B: bom, bonito e barato.
A2- E lá? Viu com certeza muitas coisas interessantes. Algo concreto que se possa tocar e fotografar? Que eu possa ver quando for até lá? Sou apaixonado pela história antiga, não parece, mas eu leio. A Grécia é pano de fundo para muitos livros de espionagem.
A1- Um primo diplomata trabalhou na embaixada do Brasil em Atenas nos anos 80, estive lá e ele, bem informado, me mostrou tudo. Como é bom você ter um guia local e culto, a gente aproveita muito mais. Um amontoado de pedras, ganha vida conhecendo-se a sua história. Um vale com pacíficas ovelhas se enche de soldados. Quase se assiste ali uma batalha que aconteceu há mais de 2.000 anos.
A2- Isso é verdade. Muitas vezes a história é mais interessante do que o objeto.
A1- Mas desta vez o que mais me interessou na Grécia, ele não poderia ter me mostrado. Foi simplesmente uma história que ouvi. Eu há muito tempo conhecia uma versão dela, mas nunca tinha prestado atenção aos detalhes.
A2- Você me lembra o Forest Gump, por acaso encontrou o Tom Hanks por lá? Teve umas aulas com ele? Toda sessão de slides pós viagem tem tudo para ser um saco, mas esta não, a conversa está bem interessante. Estou gostando muito do “contador de histórias”.
A1- Quem me contou a história foi um guia de Siracusa, um velhinho que se estivesse no Brasil, já teria netos aposentados. Você não imagina o prazer dele em se sentir útil, admirado e gratificado com uns trocados. A história é sobre o filho mais famoso daquela ilha, Arquimedes. O homem pronunciava o nome com pausas tão estudadas que lembrava uma mantra AR-QUI-ME-DES. Era a milésima vez que contava aquilo, mas parecia que a cada vez a história se renovava, tamanha a emoção. Isto, segredou-me uma turista argentina que já o havia escutado algumas vezes e me pediu que prestasse muita atenção: “Ahora hijo mio um momento mágico”. Foi bom estar prevenido.
A2- Espera aí. Eu sei. Não foi Arquimedes que resolveu o problema da coroa para o Rei tomando um banho de banheira e saiu dali pelado pela cidade gritando : EUREKA! EUREKA! Achei! Achei!
A1- É essa mesma. Só que o velhinho esperto e marketeiro, no seu ofício renovou a História e no final me deixou pensativo.
A2- Como assim? Já li isso tantas vezes em almanaques, Pato Donald e até nas Aventuras do Pateta. Não me lembro do fim. A coroa então, era falsa ou verdadeira?
A1- Bem, se fosse no Brasil, nossos guias engraçadinhos, diriam falsa. É incrível mas as coisas aqui são assim, despreocupadas. Lá não, profissional, era verdadeira, e ele completava: “Aqui em Siracusa pode-se comprar ainda hoje ouro e prata sem susto. O comércio local faz ótimas promoções’’. Citava ainda algumas casas do ramo, propondo visitas.
A2- E você trouxe alguma coisa?
A1- Não, esqueci. Sentei-me numa pedra a beira mar, mar tão diferente do nosso e tão bonito, me pus a pensar na história. Queria gravar para contá-la aos meus filhos, gostaria muito de tê-la ouvido quando na idade deles.
A2- Estou ansioso, você sabe criar um clima. É quase impensável algo de novo numa história tão contada, quanto antiga. Vamos lá?
A1- Um cálice em homenagem à Grécia? (oferecendo a bebida) Depois de falar muitas coisas sobre o dileto filho daquela ilha e mostrar que Arquimedes era um sábio, o homem disse: “Então o Rei lhe propôs um problema de difícil solução, a coroa do reino era ou não de ouro puro?’’ Seria fácil resolver se fosse um objeto com formas mensuráveis, se pudesse ser derretida e convertida numa barra, mas como medir o volume da coroa, cheia de pontas e cavidades? Ele conhecia a densidade do ouro, relação massa volume própria a cada elemento, tinha a fórmula, mas como obter um valor para o volume da coroa? Era mesmo impossível medir. Dias e dias levou raciocinando, o esforço era grande, consultou sábios de outras terras, nada.
A2- Estou te acompanhando e entendendo tudo. Veja bem, Arquimedes certamente conhecia o princípio de Aristóteles, que viveu muito antes dele: de que dois corpos não ocupam ao mesmo tempo o mesmo lugar no espaço. Acho que já sei a onde você quer chegar.
A1- Pois é, a lição do velho é que um grande problema exige motivação e esforço contínuo na sua solução, deve ser preocupação permanente, só assim detalhes muito vistos ganham relevo. “Certamente Arquimedes, disse o guia, tomava banho de banheira desde criancinha. Naquele dia realmente preocupado com o problema, a água que transbordou da banheira foi vista como igual ao volume da parte do seu corpo mergulhado nela. Se fizesse o mesmo com a coroa, o volume dela poderia ser medido”. EUREKA!
A2- Interessante, muito bom, isto me faz lembrar a construção do Pela-Macaco. (A1 olha surpreso para A2) Isso mesmo, o Pela-Macaco.
A1- Como assim? O porto da companhia lá de Paul em Vila Velha? O que é que ele tem a ver com a Grécia Antiga?
A2- É, aquele mesmo ali perto do Penedo. Até 50 e poucos, nosso minério era embarcado em Vitória, no cais em frente ao Palácio Anchieta. Uma barulhada danada, os guindastes despejando suas caçambas de minério de ferro nos porões dos navios faziam um estrondo e uma poeirada tremenda. Isso dias e noites a fio. Os trens que chegavam eram um desastre para o trânsito da cidade, lembra-se, naquele tempo só tínhamos uma ponte e ele passava por ela. A companhia há décadas vinha revolucionando a economia local. Vitória ia crescendo depois de um marasmo por séculos. Era um marco, quase surgiu no comercio uma casta nossa, a dos que pagavam à vista. Nossos uniformes feios, nas lojas, despertavam nos vendedores mais interesse do que os ternos dos doutores. Dinheiro, money, money, money. Todos nos respeitavam e esqueciam as inconveniências. Até a família do governador que tinha o sono sempre perturbado pelo barulho do porto, parecia dormir sossegada sob a benção do progresso.
A1- Eu me lembro bem. Gostava de ficar naquela escadaria do Palácio em frente ao porto e ver o trabalho dos guindastes, o movimento das correntes, o vaivém dos navios e rebocadores me fascinava. Os sons de percussão e apitos, as bandeiras, uniformes dos marujos, o esforço dos estivadores, vistos de lá, faziam o porto parecer um grande palco sendo preparado para uma cena que poderia ser trágica, patética ou cômica, mas sempre majestosa. Os movimentos e materiais eram inusitados. A cortina ficava por trás de mim e nunca se abria. Eu era sempre um Diretor antes da estréia arrumando o grande cenário. Ao fundo a baía e o Penedo.
A2- Pois é, esses guindastes é que tiraram o embarque de minério de lá, não foi o barulho nem a poeira, muito menos os transtornos no trânsito. Nós da companhia dizíamos: “a ponte é nossa, é nossa a vez” e passávamos provocando grandes engarrafamentos. A companhia gastava uma grana preta nessa operação com guindastes carregando os navios. Estabeleceu então uma meta, baratear o custo do embarque. Uma turma de engenheiros se debruçou sobre o problema, consultas foram feitas até no Japão. Um belo dia, um dos nossos engenheiros inventou o Pela Macaco. No bar ao lado da sede da companhia na beira-mar, tomando uma cervejinha com os colegas depois do expediente, sentindo ela deslizar pela garganta, olhou para Paul, do outro lado da baía e disse:“ Veja aquela rampa de pedra que vai até o mar, esta lá a solução do nosso problema”. E tomou outro gole.
A1- É, nós também temos os nossos Arquimedes. Não são famosos, mas preocupados em resolver um problema, vêm como ele as coisas com outros olhos. A cerveja virou minério e passou a deslizar até o porão dos navios pela força de gravidade.
A2- A diferença é que só se levou em conta o problema por pressão econômica. É sempre assim...
A1- Ora, não sejamos ingênuos. Quer melhor motivação para uma empresa?
A2- Certo, lá no porto de Pela-Macaco, o trem chegava e a carga dos seus vagões era despejada diretamente em rampas que iam até os porões dos navios. A força de gravidade fazia o serviço grátis. Gênio, não? Foi tão bem bolado que durante anos as fotos deste porto foram a cara do Brasil mais divulgada no exterior. O trem quase infinito puxado por três locomotivas, numa foto do Rômulo Honorato, e o novo porto, foram um sucesso. As ações da companhia dispararam nas bolsas. Ganhamos muito dinheiro e o nosso sistema previdenciário era um show. Não se pensava sequer em demissões, pelo contrario, multiplicamos nossas atividades.
A1- A Nossa turma é bamba, gente inteligente e capacitada, quando quer fazer, trabalhando com dados confiáveis, faz bem feito. Nós temos história, você já conhece o museu em Argolas na antiga estação? Foi inaugurado enquanto eu estava fora, dizem que passa uma imagem nossa muito positiva.
A2- É verdade. Custou uma grana, dois milhões de dólares. Mas parece que a título de realização cultural, vamos conseguir abater quase tudo do imposto de renda. Nós e o banco Real que nos ajudou.
A1- Como em toda grande jogada, o povo paga a conta sem sequer opinar. Essas leis culturais, têm sido uma tragédia para o Brasil. Nos faz parecer uns idiotas.
A2- A conversa tá boa mas eu vou chegar. Amanhã você volta a trabalhar? (saindo) Estava sentido sua falta, temos novidades nos testes de anti-poluentes, mas trabalho é trabalho, conversaremos lá. Até amanhã. (Voltando) E a família?
A1- Esther e as crianças chegam na terça, esticaram o passeio até Miami, parece que estão gostando mais do que da Grécia. Tchau amanhã a gente se vê. (Fecha a porta, guarda o projetor, apaga a luz.)


ATO 3 – cena 1

Blackout – troca de cenário. Uma bancada fechada na frente e nos lados, em baixo dela um balde com pétalas de rosas. Em cima da bancada balde idêntico ao anterior, contendo minério em pó e bicarbonato de sódio. Uma garrafa com vinagre forte a guisa de ácido, rótulo com caveira. A1 e A2 vestem jaleco cáqui sob avental de plástico, trazem máscaras e luvas nas mãos.
A2- A coisa está sendo feita aqui nesta área reservada. Venha eu vou lhe mostrar. (Acende a luz)
A1- (Apreciando o cenário) Só isto? Um balde?
A2-É não chega a ser a banheira de Arquimédes, mas dá resultado.
A1- (Examinando o balde) Isto é minério, pó de minério de ferro. (Rindo) Eu conheço lá de casa. E isto aqui? (Examinando o vidro)
A2- Vem lá da divisão de química. É muito forte. Parece um ácido concentrado.
(A1- cheirando com cuidado e fazendo cara feia) Cuidado!
A1- Meu Deus! É muito forte!(colocando luvas e mascara) Acho bom nos protegermos. Quando se mexe com um produto que não se conhece bem, todo cuidado é pouco e eu quero sobreviver.
A2- Veja o que acontece quando ele é lançado sobre o pó aqui no balde (Despeja uma boa quantidade que irá reagir com o bicarbonato desprendendo uma nuvem branca e ficará borbulhando.)
A1- Uau!(Admirando o efeito) Vai aparecer o Mandraque ou o gênio de Aladim?(benzendo-se ) Deus nos proteja, o pessoal do DP de Química é demais.
A2- (Chamando A1 para examinar dentro do balde) Venha cá e veja, toda a poeira se agregou e se precipitou para o fundo do balde. O que lhe parece?
A1- A poeira do minério é o nosso calcanhar de Aquiles, hoje nosso ponto mais vulnerável. SO2, Benzeno e outros gases são invisíveis. A poeira não, tá na cara. Até um Senador já se sentiu incomodado por ela. No meio do pó de minério, tem também Ferro puro, Fe2, pequenas limalha. É uma poeira magnética e boa condutora de eletricidade. Não se fala nisso nem da repercussão dessa poluição na nossa saúde e nos equipamentos.
A2-Outro dia ouvi uma turista que visitava uma galeria de arte elogiar tudo que viu por aqui, para logo em seguida condenar a falta de capricho das faxineiras do hotel onde estava hospedada. Isso a aborrecia muito pois não podia andar descalça nem dentro do quarto, os pés ficavam pretos, sujos.
A1-É verdade, um amigo proprietário de uma pousada na Ilha do Boi, teve que admitir mais uma turma de faxineiras. Hoje limpam o lugar sem interrupção. Ainda assim de vez em quando engole uns sapos dos hóspedes, ora por causa da poeira, ora pelos preços que foram reajustados para cobrir mais gastos com limpeza.
A2- Na hora em que os capixabas respaldados em pesquisas sérias, começarem a obter atestados e laudos, e ingressarem na justiça para obterem uma compensação por prejuízos na saúde, equipamentos e na área de serviços, acho que a coisa vai mudar.
A1- É, na hora em que conseguirem mexer no bolso das empresas a coisa fica séria.
A2- A direção da companhia exige uma solução barata para conservarmos aqui toneladas de minério que perdemos todos os dias para o vento. Estima-se que o vento carrega de 20 a 30 toneladas por dia. Isto tem sido um grande prejuízo moral para nós e um prato cheio para alguns oportunistas. Um sujeito lá em Vila Velha, está pintando quadros com o nosso pó, ele desenvolve um projeto artístico chamado: “A VALE, A VACA E A PENA”.
A1- Título curioso, você sabe o que quer dizer ?
A2- Bem, telas brancas são instaladas numa varanda coberta e ficam na posição horizontal por 50 dias. Usando o dedo, com a poeira que se depositou sobre as telas, desenhos alusivos a poluição atmosférica são feitos ali e fixados com verniz spray.
A1- Sim, eu sei. Mas o título “A VALE A VACA E A PENA” você sabe o que quer dizer? A VALE, acredito que seja uma homenagem a nossa empresa.
A2- É verdade, pelo que sei o projeto foi montado na época do leilão de privatização da Vale e a proposta era colocar o tema poluição na mídia, as atenções estavam voltadas para a empresa.
A1- Faz sentido, A PENA deve ser uma referência ao cone de fumaça que se desprende das chaminés, a pena das chaminés. A VACA aí no meio é que não parece fazer sentido.
A2- Pelo que sei é uma gozação do autor. Quer nos mostrar que o matuto dono da vaca, que vende o leite para tocar a fazenda, junta a sujeira que a vaca faz e fatura um extra com o seu esterco. O ferro abundante na poeira que circula no ar da Grande Vitória, facilmente detectado com um imã, experiência que cada um pode fazer na própria casa, se ficar na empresa também será um lucro extra.
A1- Eu fui lá ver, é interessante o trabalho dele, mas fiquei constrangido quando soube que todos os quadros foram doados para a Casa da Memória e ficarão lá apontando a nossa sujeira. Este período na vida da Companhia tem que ficar logo no passado, só lá na memória.
A2- É, chegando ao ano 2000, temos que encontrar mais um Arquimedes? Não vai ser fácil, hoje todo mundo prefere tomar banho de chuveiro.(risos)
A1- Ih, olha lá (Olhando por uma janela) É a comissão de meio ambiente, lideres comunitários, aqueles artistas e alguns políticos. Não estava prevista a vinda deles até aqui. Ainda mais acompanhados de jornalistas. Este é um espaço reservado para testes.
A2- O que terá acontecido? Quem é que deu mole?
A1- Vamos guardar este negócio, está em fase experimental, ninguém examinou essa fumaça e nem sabemos que ácido é este. Pode dar encrenca se nos perguntarem alguma coisa e essa turma é curiosa.
A2- Cara não importa. O que temos que acabar é com o pó de minério. A população o identifica com imãs de geladeira e encontram nosso endereço. É do que vêm que eles reclamam. Esta fumaça que saiu se dissipa e o processo poderá ser feito à noite. Não vão nem notar, não tem nem cheiro forte quando se espalha.
A1- Acho melhor guardar este negócio.(Tira o balde de cima da bancada e o coloca num canto escondido)Está bom aqui ?
A2- Não cara o que é isto? ( Pegando o balde e o colocando de novo sobre a bancada) Não se preocupe, esta turma engole qualquer história. Além do mais boa parte deles depende das nossas verbas. Não serão desagradáveis.
A1- Nem todos.(Colocando o balde debaixo da bancada) Isto aqui está muito perigoso e hoje qualquer vacilo é rua, você bem sabe que não seremos os primeiros.
A2- É, talvez você esteja certo. (Olhando o balde sob a bancada) Se alguém vier do lado de cá, vai ver.
A1- Seguro morreu de velho sem perder o emprego. (Pegando o balde com as pétalas e dirigindo-se ao limite do proscênio) Isto aqui está cada vez mais quente e perigoso. O cheiro está insuportável, este ácido é fortíssimo, se respingar na pele tira pedaço.(Olha para A2 que faz um gesto para impedi-lo mas recua. Olhando para a platéia) Vou jogar isto fora. (Lança as pétalas sobre a platéia)

CAI O PANO - CONGO:

Seu empresário eu vou dizer Ele só vai aumentar
Prá vosmicê me escutar E a vida prá todo mundo
Nós queremos seu sucesso É certo vai melhorar.
Ver o Brasil prosperar
Mas seu minério é todinho FIM
Prá você negociar
Bem guardado e protegido Kleber Galvêas – tel.: 239 2725