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ENTREVISTA IRRITANTE

Pela décima vez, falando sobre poluição, um alergista concede entrevista ao Jornal de uma  TV local, em 18 de maio de 2013. Mais uma vez, junto ao repórter desligado, aponta os veículos motorizados como principais responsáveis pela má qualidade do ar que respiramos. Durante toda a entrevista ninguém pronunciou as palavras: minério, ferro, siderúrgica e Tubarão.

Não titulei o entrevistado de doutor, nem de médico, embora seja meu amigo de infância, emérito profissional e professor decano da nossa Universidade Federal. À semelhança da poluição a entrevista foi irritante. Hoje, ele não merece reverência.

Sei que Vitória é uma rica mina de ouro para otorrinolaringologistas, alergistas, pneumologistas e oftalmologistas.

Quase todos atendem em clínicas com salas de espera lotadas, sem janelas, promovendo um troca-troca de doenças entre seus fregueses pacientes. Entretanto, não é aí que está o “filão farto” que os enriquece, mas sim, lá fora, na poluição.

Nenhum desses médicos vem a publico “entregar o ouro”, combatendo essa poluição. Deveriam assistir ao filme Desencanto, de Divid Lean. Ele conta a história de um médico ético, que, vendo serem inúteis os seus esforços clínicos, frustrado, por não poder curar as doenças irreversíveis causadas diretamente pela poluição do ar (calicose, antracose, silicose), deixa a Londres poluída da década de 30, para ir morar na África do Sul.

Tenho seis irmãos; e minha esposa, quinze. Todos com mais de cinquenta anos. Não há registro de problemas respiratórios, auditivos ou alérgicos, significativos, entre nossos irmãos. Suponho que a genética do casal seja boa nessas áreas. Mas nós temos três filhos, e todos os três sofreram cirurgias no nariz e no ouvido, nos anos 1990.
Nosso filho caçula, com 30 anos, repetiu a incômoda e cara cirurgia esta semana.

Muito mais puro que o ar de uma densa floresta tropical ou das pradarias desertas é a brisa à beira-mar, graças ao plancto marinho, que é o maior produtor de oxigênio do nosso planeta, e ao sopro constante das brisas marítima/terrestre.

A terrível poluição provocada por veículos motorizados é pelo menos dez vezes mais intensa e, portanto, ainda mais prejudicial em cidades distantes do litoral do que em cidades costeiras. Entretanto, lá nas grandes capitais do interior, eles usam suas varandas abertas, enquanto, aqui, nós temos que lacrar todas as varandas, inclusive aquelas de frente para o mar, onde poucos barcos e navios circulam.

Cidades do interior com maior trânsito de veículos, como Goiânia, Belo Horizonte, e mesmo a gigantesca São Paulo, têm poluição menos agressiva do que Vitória, que é bafejada diariamente por ventos marinhos e terrestres. Com muita frequência nos visitam o nordestão e o alísio, ou vento sul, que empresta seu nome a um dos apelidos da nossa capital: “Ilha do Vento Sul”.

Quando médicos, se referindo à poluição em Vitória, citam veículos (nem tantos nós temos), construção civil (o Sindicom não reage às acusações das siderúrgicas), governo (frequente saco de pancadas pelas ruas malcuidadas), como causas principais da nossa poluição insidiosa, e não citam a atividade siderúrgica em Tubarão como protagonista da poluição na Grande Vitória (nas dezenas de entrevistas que concedem), estão criando cortina de fumaça e prejudicando uma ação afirmativa em favor da saúde pública.


Kleber Galvêas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com maio, 2013
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