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LIBERDADE, COMUNICAÇÃO E ARTE. A Tribuna, 20/09/2015

 

Quando criança, por volta de 1950, ao entrar em consultórios, identificava alguns objetos do ramo: o estetoscópio, geralmente em torno do pescoço do médico; o aparelho de medir pressão, sobre a mesa; o martelinho de borracha, para conferir o reflexo patelar; o espelhinho frontal de Ziegler, que na testa do doutor lhe dava ares de ET. Tendo a medicina se tornado cada vez mais refinada e complexa, as especialidades se tornaram condição para a boa prática profissional. Hoje é muito raro encontrarmos esses aparelhos reunidos em um único consultório. Quem vê pé ou cabeça, não examina pulmão nem coração.

A especialização na atividade humana é um fenômeno moderno, que ocorre em quase todas as áreas profissionais técnicas. Não há como acompanhar integralmente a evolução do conhecimento em campos tão vastos como Medicina, Engenharia, Direito, etc. Daí a necessidade das especializações. Já na arte, a concepção é absolutamente individual e intransferível: especialização é exceção, e o repetitivo causa estranhamento. Raramente fica bacana como aquele sambinha feito com uma nota só. A inspiração não pode ser programada, e o perfeccionismo técnico é virtuosismo e não arte. O artista nunca erra na execução da obra que o satisfaça, mas saber o “onde” e o “quando” mostrar é fundamental para que sua arte seja percebida e se realize. Muitas vezes o próprio artista tem dificuldade para identificar a linguagem mais própria para aquele lugar e momento. Mamonas Assassinas ensaiavam rock, mas arrebentaram com as brincadeiras que faziam nos intervalos dos ensaios; a Banda Casaca ensaiava MPB, mas alcançou grande sucesso com o congo que, para seus músicos, era diversão. O feedback do público é indispensável.

Sensível ao tempo e ao ambiente, o artista atual encontra, na diversidade dos meios (literatura, pintura, música, cinema, internet...) o mais eficiente ou a combinação deles, para apresentar ao público sua obra.

Na pintura, o artista não procede como o antigo egípcio, submisso à “lei de frontalidade”; nem como o contemporâneo Picasso, fiel a fases com manias de cores (fase rosa, azul). O artista atual quer a melhor forma para veicular sua ideia, com a liberdade que experimenta, sabendo que a prisão mais eficiente é a que  constrói para si mesmo. Assim como o escritor, que, dependendo do assunto, se expressa na forma de diálogo ou monólogo, poesia, conto ou romance; como o músico que, de acordo com o tema, opta por compor uma música lenta ou ligeira, e ainda escolhe, entre diferentes arranjos, o ideal para envolver o ouvinte; o pintor atual transita por diferentes estilos, técnicas, materiais e suportes, para melhor expressão da sensação que deseja transmitir.

Os fundamentos desta estética atual, nascida da velocidade (futurismo) e desenvolvida na explosão da comunicação, oferecem ao artista um horizonte amplo: a liberdade. Se desviarmos o olho do umbigo e seguirmos em frente (sem viseiras contemporâneas), observando todos os lados, envolvendo o público e sabendo fazer a hora, não avistaremos o futuro, mas caminharemos com mais prazer, segurança e arte.

Na Barra do Jucu, acompanhei a degradação da paisagem em seu entorno, quis registrar minha impressão, fui impressionista. Nos anos 1980, indo além das nossas fronteiras, para contar histórias, com ênfase em alguns aspectos do nosso meio, fui expressionista. Nos últimos anos do milênio passado, atento à “Era da Incerteza”, pintei telas abstratas. A coleção de 1999 lembra a vertigem de Alice ao cair no buraco, quando perseguia o Coelho das Horas, no início da aventura no País das Maravilhas. A exposição abstrata, realizada em 2008, com sutis insinuações figurativas, teve o título: Demolindo a Identidade Capixaba.

Performances inspiradas em Diógenes, 300 a.C. (Praça é praça, não?) e instalações com base na História (Robério Martins) ou em observações científicas (A Vale, A Vaca e a Pena) são do repertório do meu ateliê, com portas sempre abertas ao público.

Kleber Galvêas, pintor. Tel. (27) 3244 7115 www.galveas.com setembro/2015

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